É comun referir-se ao lógico para expressar aquilo que parece evidente ou razoável, por exemplo: "é lógico que a seleção da Alemanha vença a seleção da Arábia Saudita". Equivale àquilo que consideramos óbvio ou, pelo menos, defensível. Na etimologia, Lógica significa a ciência do logos, que quer dizer palavra, proposição, oração e também pensamento, tornando-se equívoca a sua noção (Logos, 1991, p. 444). Mas de modo rudimentar, o estudo da lógica é o estudo dos métodos e princípios que servem para diferenciar o raciocínio correto do incorreto. Embora não queira significar que só é possível um argumento correto por meio da lógica (Toulmin, e. g., defendia que as pessoas normais não usam lógica (formal) na argumentação do dia-a-dia).
A lógica não é a ciência das leis do pensamento, pois, como diz Copi (1978, p. 20), "todo raciocínio é pensamento, mas nem todo pensamento é raciocínio". Parmênides, na Grécia, já tinha desenvolvido um esboço dos aspectos lógicos, mas, o seu primeiro e amplo estudo deve-se a Aristóteles, investigações reunidas no Organon, título que foi dado pelos comentadores.
Lá estão definidos, por exemplo, o princípio de identidade (lógico e ontológico): o ser é; o princípio de contradição: o ser é, o não ser não é.
O que hoje chamamos de lógica, Aristóteles chamava de "analítico" ou "seguindo as premissas". Para ele, lógico tinha o sentido do que modernamente significa "verosímil" ou "gnoseológico" (Logos, 1991, p.445-446).
O indivíduo que tem conhecimento da lógica possui mais facilidade para organizar e apresentar suas ideias. Ele tem capacidade para distinguir o essencial do superficial. Usar a lógica na pesquisa, por exemplo, facilita a fundamentação das conclusões alcançadas, aumentando, deste modo, tanto a inteligibilidade do trabalho final quanto a credibilidade das conclusões defendidas. Além disso, a lógica facilita a análise das idéias apresentadas por outros (CARRAHER, 1983, P. 57). sem contar que é praticamente impossível bem compreender os teóricos da argumentação jurídica (e. g., Alexy, Atienza) sem um conhecimento dos fundamentos lógicos.
Premissas e conclusões
Comecemos com o conceito de inferência:
"A inferência é um processo pelo qual se chega a uma
proposição, afirmada na base de uma ou outras mais
proposições aceitas como ponto de partida do
processo" (grifei - Copi, 1978, p. 21).
Para o lógico não interessa tanto o processo de inferência como interessam as proposições, que são pontos inicial e final do processo, e as relações entre elas.
Para qualquer inferência existe um argumento correspondente. "Um argumento é qualquer grupo de proposições tal que se afirme ser uma delas derivada das outras, as quais são consideradas provas evidentes da verdade da primeira" (grifei - Copi, 1978, p. 23).
Observe o velho e aborrecido exemplo de um argumento, transcrito em inglês para variar em alguma coisa:
Sócrates is a man.
All men are mortal.
Therefore, Socrates is mortal.
As premissas são "Sócrates is a man" e "All men are mortal". Enquanto que "Therefore", diriamos, é um símbolo de um argumento (um indicador) e a conclusão é "Sócrates is mortal". Claro que na vida real não há um corte tão claro naquilo que argumentamos (Newton-Smith, 1994, p. 01).
Para o lógico não interessa tanto o processo de inferência como interessam as proposições, que são pontos inicial e final do processo, e as relações entre eles.
Proposição é normalmente usado para expressar o significado de uma sentença ou oração declarativa. Note que "proposição" e "enunciado" não são sinónimos, mas no contexto lógico são usados em sentido quase idêntico.
"A conclusão de um argumento é aquela que se afirma
com base nas outras proposições desse mesmo argumento, e,
por sua vez, essas outras proposições que são enunciadas
como prova ou razões para aceitar a conclusão são as
premissas desse argumento" (Copi, 1978, p. 23).
Oportuno esclarecer que "premissa" e "conclusão" são termos relativos, uma só proposição pode ser premissa num argumento e conclusão noutro. Como diz Copi (1978, p. 23), isoladamente, nenhuma proposição é uma premissa ou uma conclusão. "Só é premissa quando ocorre como pressuposição num argumento ou raciocínio. Só é conclusão quando ocorre num argumento em que se afirma decorrer das proposições pressupostas nesse argumento". Deste modo premissa e conclusão são termos relativos, como empregador e empregado, dependem do contexto: empregador para a sua doméstica, empregado para a empresa que trabalha.
Frequentemente, a conclusão é apresentada (enunciada)no final do argumento ou intercalada entre as premissas.
No mínimo, um argumento envolve duas proposições: uma conlusão e uma premissa (ou mais). Para se distinguir um argumento correto de um incorreto é preciso, antes de mais, reconhecer quando os argumentos ocorrem e identificar as suas premissas e conclusões.
Há palavras que ajudam a identificar as premissas (indicadores das premissas), como: porque, desde que, pois que, como, dado que, tanto mais que, pela razão de que.
Palavras como: portanto, daí, logo, assim, consequentemente, segue-se que, podemos inferir, podemos concluir, são indicadores da conclusão.
Mas precisa ficar claro que nem todos os trechos com um argumento trazem esses indicadores especiais. Na maioria das vezes, o contexto é muito mais útil. Além disso, há proposições que são formuladas em modos axiomáticos, como se não existisse discusão sobre elas, o que leva a concluir que se tratam de premissas.
Atenção: Nem tudo que é dito no curso de um argumento é premissa ou conclusão desse argumento. O trecho pode simplesmente conter material que é irrelevante para o argumento, mas que fornece informações importantes para que o leitor compreenda o argumento. Observe o seguinte exemplo de um trecho de Schopenhauer apud Copi (1978, p. 25):
"Se o Código Penal proíbe o suicídio, isso não constitui um
argumento válido na Igreja; e, além disso, a proibição é
ridícula; pois que penalidade poderá assustar um homem que
não teme a própria morte?" (em Estudos de Pessimismo).
O material antes do primeiro ponto-e-vírgula não é premissa nem conclusão, mas, sem ele, não seria possível saber a que "proibição" a conclusão se refere. No caso, premissa é: nenhuma penalidade pode assustar um homem que não teme a própria morte - apresentada na forma de pergunta retórica, usada mais para fazer uma afirmação do que realmente perguntar. A conclusão, por sua vez é: a proibição de suicídio do Código Penal é rídícula.
bom estudo...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário