sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Parménides
"O Ser é, o não-ser não é; e: o que é não pode não-ser"
A força com que Parmênides expõe aos ouvintes as suas doutrinas fundamentais não deriva de uma convicção dogmática, mas da vitória da necessidade do pensamento. O conhecimento é também uma absoluta ananke para Parmênides, que ainda o denomina dike ou morra, evidentemente por influência de Anaximandro. É o mais alto fim a que a investigação humana pode aspirar. Mas quando diz que Dike mantém o ser fixo nos seus limites, sem qualquer possibilidade de dissolução. De tal modo que já não pode nascer nem perecer, vê-se que a sua Dike tem uma função contrária à de Anaximandro, a qual se manifesta na geração e corrupção das coisas. A Dike de Parmênides, que separa o ser de toda a geração e corrupção e o faz permanecer imóvel em si mesmo, é a necessidade implícita no conceito do Ser, interpretada como "aspiração do Ser à justiça". Nas frases insistentemente repetidas "o Ser é, o não-ser não é; e: o que é não pode não-ser", Parmênides exprime a necessidade do pensamento da qual deriva a impossibilidade de realizar no conhecimento a contradição lógica.
Esta força daquilo que se adquiriu no puro pensamento é a grande descoberta que domina toda a filosofia eleática. Determina a forma polémica dentro da qual o seu pensamento se desenvolve. O que nas suas proposições fundamentais aparece como a descoberta de uma lei lógica é para ele um conhecimento objectivo, cujo conteúdo o coloca em conflito com toda a anterior filosofia da natureza. Se é certo que o Ser nunca não é e o não-Ser nunca é, torna-se evidente para Parmênides que o devir é impossível. A aparência, porém, revela-nos algo de diferente. Os filósofos naturalistas, que nela confiam cegamente, sustentam que o Ser vem do não-Ser e no não-Ser se dissolve. No fundo, é a opinião de todos nós. Confiamos nos olhos e nos ouvidos em vez de perguntarmos ao pensamento, o único que pode guiar-nos à certeza infalível. O pensamento é a vista e o ouvido espiritual do Homem.
Aqueles que não o seguem são como cegos e surdos, e emaranham-se em contradições sem saída. Não têm outro remédio senão admitir que o Ser e o não-Ser são e não são o mesmo, ao mesmo tempo. Se derivarmos o Ser do não-Ser, admitimos que a sua origem é incognoscível. Ao verdadeiro conhecimento deve corresponder um objecto. Assim, se de facto buscamos a verdade, temos de nos afastar da geração e corrupção, que levam a proposições impensáveis, e nos ater ao puro Ser, que no pensamento nos é dado. O pensamento e o Ser são uma e a mesma coisa.
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