sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Os valores

O homem vive, toma partido, crê numa multiplicidade de valores, hierarquiza-os e dá assim sentido à sua existência mediante opções que ultrapassam incessantemente as fronteiras do seu conhecimento efectivo. No homem que pensa, esta questão só pode ser raciocinada, no sentido em que, para fazer a síntese entre aquilo que ele crê e aquilo que ele sabe, ele só pode utilizar uma reflexão, quer prolongando o saber, quer opondo-se a ele num esforço crítico para determinar as suas fronteiras actuais e legitimar a hierarquização dos valores que o ultrapassam. Esta síntese raciocinada entre as crenças, quaisquer que elas sejam, e as condições do saber, constituí aquilo que nós chamamos uma "sabedoria" e é este que nos parece ser o objecto da filosofia.

Jean Piaget, Sageza e Ilusão da Filosofia



Síntese

Valores



1. Quando decidimos fazer algo, estamos a realizar uma escolha. Manifestamos certas preferências por umas coisas em vez de outras. Evocamos então certos motivos para justificar as nossas decisões.

2. Factos e valores

Todos estes motivos podem ser apoiados em factos, mas têm sempre implícitos certos valores que justificam ou legitimam as nossas preferências.

Exemplo: O dia 18 de Fevereiro de 2001 foi o dia mais importante da semana, era um domingo.

Facto: O dia 18 de Fevereiro de 2001 foi efectivamente um domingo.

Valor implícito: O domingo como o dia mais importante entre os dias da semana


3.Facto

Um facto é algo que algo que pode ser comprovado, sobre o qual podemos dizer que a afirmação é verdadeira ou falsa. Os factos são igualmente susceptíveis de gerarem consensos universais.

4. Valor

Podemos definir os valorespartindo das várias dimensões em que usamos:

a) os valores são critérios segundo os quais valoramos ou desvaloramos as coisas;

b) Os valores são as razões que justificam ou motivam as nossas acções, tornando-as preferíveis a outras.

Os valores reportam-se, em geral, sempre a acções, justificam-nas.

Exemplo: Participar numa manifestação a favor do povo timorense,pode significar que atribuímos à Solidariedade uma enorme importância. A solidariedade é neste caso o valor que justifica ou explica a nossa acção.

Ao contrário dos factos, os valores apenas implicam a adesão de grupos restritos. Nem todos possuímos os mesmos valores, nem valorizamos as coisas da mesma forma.

5.Tipos de valores

Os valores não são coisas nem simples ideias que adquirimos, mas conceitos que traduzem as nossas preferências. Existe uma enorme diversidade de valores, podemos agrupá-los quanto à sua natureza da seguinte forma:

Valores éticos: os que se referem às normas ou critérios de conduta que afectam todas as áreas da nossa actividade. Exemplos: Solidariedade, Honestidade, Verdade, Lealdade, Bondade, Altruísmo...

Valores estéticos: os valores de expressão. Exemplo: Harmonia, Belo, Feio, Sublime, Trágico.

Valores religiosos: os que dizem respeito à relação do homem com a transcendência. Exemplos: Sagrado, Pureza, Santidade, Perfeição.

Valores políticos: Justiça, Igualdade, Imparcialidade, Cidadania, Liberdade.

Valores vitais: vida,Saúde, Força.

6.Hierarquização dos Valores

Não atribuímos a todos os nossos valores a mesma importância. Na hora de tomar uma decisão, cada um de nós, hierarquiza os valores de forma muito diversa. A hierarquização é a propriedade que tem os valores de se subordinarem uns aos outros, isto é, de serem uns mais valiosos que outros. As razões porque o fazemos são múltiplas.

Exemplo:

A maioria da população mundial continua a passar graves carências alimentares. Todos os anos morrem milhões de pessoas por subnutrição. Não é de querer que hierarquia dos seus valores destas pessoas a satisfação das suas necessidades biológicas não esteja logo em primeiro lugar.

7.Polaridade dos Valores

Os nossos valores tendem a organizar-se em termos de oposições ou polaridades. Preferimos e opomos a Verdade à Mentira, a Justiça à Injustiça, o Bem ao Mal, a beleza à fealdade, a genorosidade à mesquinhês. A palavra valor costuma apenas ser aplicada num sentido positivo. Embora o valor seja tudo aquilo sobre o qual recaia o acto de estima positiva ou negativamente. Valor é tanto o Bem, como o Mal, o Justo como Injusto..

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Tipos de argumentos


1. Tipos de Argumentos

A classificação dos discursos argumentativos varia bastante conforme os autores. Vamos centrar a nossa atenção em apenas quatro tipos:

- Dedutivos

- Indutivos

- Analógicos

- Falaciosos

Argumentos dedutivos (tipo silogísticos). Nestes argumentos a verdade das premissas assegura a verdade da conclusão. Se as premissas forem verdadeiras, e o seu encadeamento adequado, a conclusão será necessariamente verdadeira. Os argumentos dedutivos não acrescentam nada de novo ao que sabemos.

Exemplo:

Todos os homens são mortais. João é homem. Logo, João é mortal.

Argumentos indutivos. Neste caso, a conclusão ultrapassa o conteúdo das premissas. Embora estas possam ser verdadeiras, a conclusão é apenas provável .

Exemplo:

Todos banhistas observados até hoje estavam queimados pelo sol. Logo, o próximo banhista que for observado estará queimado pelo sol. (argumento indutivo - generalização, previsão)

Argumento por Analogia. Neste tipo de argumentos parte-se da semelhança entre duas coisas, para se concluir que a propriedade de uma é a mesma que podemos encontrar na outra. As diferenças especificas são ignoradas.

Exemplo:

Marte é um astro como a Terra. A Terra é habitada. Logo, Marte é também habitado.

.

2. Falácias Informais

Distinção entre falácias formais e Informais:

a) as falácias formais são constituídas por raciocínios inválidos de natureza dedutiva.

b) as falácias informais compreendem os restantes tipos.

Falácias cujas premissas, sob o ponto de vista lógico, não são relevantes para a conclusão. O importante é o seu impacto psicológico:

Apelo à Piedade ( Argumentum ad Misericordiam). Faz-se apelo à misericórdia do auditório de forma a que a conclusão seja aceite.

Exemplo: Sr. Juiz não me prenda, porque se o fizer os meus filhos ficam desamparados.

Apelo à Ignorância (Argumentum ad Ignorantiam). Utiliza-se uma premissa baseada na insuficiência de evidências para sustentar ou negar uma dada conclusão.

Exemplo:

1. Ninguém provou que Deus existe. Logo, Deus não existe.

2. Ninguém provou que Deus existe. Logo, Deus não existe.

Apelo à Força ( Argumentum ad Baculum). Pressão psicológica sobre o auditório.

Exemplo: As minhas ideias são verdadeiras, quem não as seguir será castigado.

Apelo à Autoridade ( Argumentum ad Verecundiam). Faz apelo à autoridade e prestígio de alguém para sustentar uma dada conclusão.

Exemplo: Einstein, o maior génio de todos o tempos, gostava batatas fritas. Logo, as batatas fritas são o melhor alimento do mundo.

Contra a Pessoa ( Argumentum ad Hominem). Coloca-se em causa a credibilidade do oponente, de forma a desvalorizar a importância do seus argumentos.



Sofismas lógicos:

Petição de Princípio (Petitio Principi). Pretende-se provar uma conclusão, partindo de uma premissa que é a própria conclusão.

Exemplo: Toda a gente sabe que as autarquias são corruptas. Por isso não faz sentido provar o contrário.

Falsa Causa (Post hoc ). A conclusão é extraída de uma sucessão de acontecimentos.

Exemplo: O dinheiro desapareceu do cofre depois do João ter saído da loja. Logo....



Falso Dilema. Apenas são apresentadas duas alternativas, sendo omitidas todas as outras.

Exemplo: Quem não está por mim, está contra mim.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Lógica Informal




Que tipos de argumentos há?

Os argumentos de que tenho falado até aqui são também conhecidos como argumentos dedutivos.
O melhor que se pode dizer dos argumentos dedutivos é que se trata daquele tipo de argumentos cuja forma garante a verdade da conclusão, no caso de as premissas serem também verdadeiras.
A sua forma lógica é, portanto, decisiva. O mesmo não se pode dizer de outros tipos de argumentos, residindo aí a diferença entre lógica formal e lógica informal. Para além dos argumentos dedutivos temos então os argumentos:

Por analogia
Indutivos (generalizações a partir de exemplos)
Sobre causas
De autoridade

Juntamente com os argumentos dedutivos, os argumentos por analogia são os mais utilizados pelos filósofos. Os argumentos por analogia costumam apresentar a seguinte forma:

Os x têm as propriedades A, B, C, D.
Os y, tal como os x, têm as propriedades A, B, C, D.
Os x têm ainda a propriedade E.
Logo, os y têm também a propriedade E.

Podemos resumir e dizer:

Os x, como os y, têm as propriedades A, B, C, D.
Os x têm ainda a propriedade E.
Logo, os y têm a propriedade E.

Resumindo ainda mais:

Os x são E.
Os y são como os x.
Logo, os y são E.

Os argumentos por analogia partem da ideia de que se diferentes coisas são semelhantes em determinados aspectos, também o serão noutros.

Veja-se o exemplo seguinte:

Os soldados de um batalhão têm de obedecer às decisões de um comandante para atingir os seus objectivos.
Uma equipa de futebol é como um batalhão.
Logo, os jogadores de uma equipa de futebol têm de obedecer às decisões de um comandante (treinador) para atingir os seus objectivos.

O termo «como» na segunda premissa está destacado. Esse termo indica que estamos a estabelecer uma comparação entre situações análogas, característica dos argumentos por analogia. Mas será que apenas pela forma do argumento ficamos a saber se é aceitável ou não? Para tornar clara a resposta a esta pergunta, compare-se o argumento anterior com o seguinte:

Os soldados de um batalhão andam armados quando treinam.
Uma equipa de futebol é como um batalhão.
Logo, os jogadores de futebol andam armados quando treinam.

A primeira coisa que se torna evidente é que, ainda que o primeiro argumento possa ser aceitável, este último não o é com toda a certeza. Acontece, porém, que ambos exibem exactamente a mesma forma. Concluímos, assim, que a mera inspecção da sua forma não nos permite classificar os argumentos por analogia como bons ou maus.

Portanto, a qualidade destes argumentos não depende da sua forma lógica.

Encontramos com a mesma forma bons e maus argumentos por analogia.
Por isso é que tais argumentos não fazem parte da lógica formal.
Por isso também não dizemos que um argumento por analogia é válido ou inválido, coisa que só se aplica aos argumentos dedutivos.

Recordo a definição de validade, segundo a qual é logicamente impossível obter conclusões falsas de premissas verdadeiras, o que não acontece nos argumentos por analogia.

Nos argumentos por analogia nunca podemos garantir logicamente que de premissas verdadeiras se obtêm sempre conclusões verdadeiras.

Isto é, os argumentos por analogia não possuem a característica de preservar logicamente a verdade. Assim, não temos outro remédio senão olhar para aquilo que as premissas e a conclusão afirmam, de pouco servindo a análise do seu aspecto formal.

Repare-se no seguinte argumento:

Os bombeiros dividem-se em batalhões, obedecem a uma hierarquia e têm um quartel, como os polícias.
Os polícias usam farda.
Logo, os bombeiros usam farda.

Vimos que um argumento por analogia não é válido ou inválido, mas que nem todos os argumentos por analogia são maus.
Costuma-se dizer que os argumentos por analogia são fortes ou fracos. Como distinguimos uns dos outros? O argumento anterior é constituído por premissas e conclusão verdadeiras.
Aparentemente é um argumento forte por analogia.

Mas veja-se agora um outro argumento por analogia (com a mesma forma do anterior, claro) com premissas também verdadeiras, mas cuja conclusão é manifestamente falsa:

Os bombeiros dividem-se em batalhões, obedecem a uma hierarquia, têm um quartel e usam farda, tal como os polícias.
Os polícias usam arma.
Logo, os bombeiros usam arma.

Este argumento é, sem dúvida, fraco. Até porque a conclusão é falsa.
Ao avaliar um argumento por analogia no sentido de saber se é forte ou fraco, temos de estar atentos a três critérios, os quais se manifestam nas seguintes perguntas:
As semelhanças apontadas nos casos que estão a ser comparados são relevantes para a conclusão que se quer inferir?

A comparação tem por base um número razoável de semelhanças?
Apesar das semelhanças apontadas, não haverá diferenças fundamentais entre os casos que estão a ser comparados?
Aplicando os critérios patentes nas perguntas anteriores, podemos verificar se uma analogia é forte ou fraca.
No caso do argumento anterior, por exemplo, verificamos que falha os critérios 1e3.

As semelhanças entre os bombeiros e os polícias são muitas, mas não são relevantes para a conclusão que se quer tirar.
Nenhuma delas está sequer relacionada com o uso de arma, falhando assim o critério 1.

Mas também falha o critério 3 porque existe uma diferença fundamental entre os bombeiros e os polícias.
Estes fazem parte de uma força da ordem, necessitando por isso dos meios para a restabelecerem quando é perturbada; aqueles são membros de uma força de paz, não necessitando de quaisquer meios de coacção.

A seguinte analogia também é claramente fraca:

Os franceses, como os ingleses, têm vários filósofos famosos.
Os franceses estudam filosofia no ensino secundário.
Logo, os ingleses estudam filosofia no secundário.

É discutível se a semelhança referida é ou não relevante para a conclusão, mas não há qualquer dúvida que o critério (ii) não é satisfeito. Não podemos inferir seja o que for sobre o ensino da filosofia em Inglaterra baseados apenas numa semelhança com o caso francês.

Um famoso argumento por analogia a favor da existência de Deus é o seguinte:

Todas as máquinas têm um criador que as põe a funcionar de forma precisa, regular e inteligível.
O mundo é como uma máquina.
Logo, o mudo tem um criador.

Será um argumento forte? Não é difícil admitir que as semelhanças são relevantes para a conclusão, passando satisfatoriamente o critério 1.
Também não é difícil admitir que as semelhanças entre as máquinas e a natureza são numerosas, passando também no critério 2.

E quanto ao critério 3? Será que há diferenças fundamentais?

Parece-me que há uma diferença que não pode ser desprezada: enquanto as máquinas não se modificam nem evoluem com o tempo, a não ser pela intervenção de alguém, os seres naturais modificam-se e aperfeiçoam-se constantemente por si próprios.

Esta diferença é determinante para pôr em causa a necessidade de um criador para a natureza. O argumento falha, portanto, o critério 3.
Por isso é um argumento fraco.

Se os argumentos dedutivos e por analogia são muito utilizados na filosofia, o mesmo já não acontece com os argumentos a partir de exemplos — mais conhecidos como «argumentos indutivos» ou «generalizações».

Contudo, são os argumentos mais utilizados fora da filosofia. Grande parte das opiniões das pessoas resulta de processos indutivos de raciocínio.

É o que se verifica em afirmações comuns como «os alentejanos são preguiçosos», «os alemães são racistas», «todos os seres humanos morrem», «o Sol vai nascer amanhã», «as mulheres são mais sensíveis do que os homens», etc.

A forma dos argumentos indutivos é a seguinte:
Alguns A são B.
Logo, todos os A são B.

Neste caso a premissa é apenas o resumo de um conjunto mais ou menos extenso de casos particulares. Mas por muito extenso que seja o número de exemplos de que se parte num argumento indutivo, nunca temos a garantia lógica de que a conclusão seja verdadeira.

Também aqui corremos o risco de encontrar premissas verdadeiras e conclusão falsa.

Portanto, os argumentos indutivos, como já acontecia com os analógicos, não são válidos ou inválidos.

Veja-se o seguinte exemplo:

Os cisnes observados até agora são brancos.
Logo, todos os cisnes são brancos.

Note-se que a premissa, ao referir todos «os cisnes observados até agora», está a referir apenas alguns cisnes e não todos os que existem.

Apesar disso, dificilmente diremos que não constitui uma boa razão para concluir que todos os cisnes são brancos.

De facto, durante muito tempo se pensou que todos os cisnes eram brancos até ao dia em que se descobriu um lugar até então desconhecido (a Austrália) em que os cisnes são pretos.

Bastava, aliás, que um só cisne fosse de outra cor para tornar falsa a conclusão anterior.

Mas será que alguém considera fraco o argumento seguinte?
Até agora todas as esmeraldas encontradas são verdes.
Logo, todas as esmeraldas são verdes.

É claro que este é um bom argumento. Não é logicamente impossível que a conclusão seja falsa. Mas é improvável.

Assim, uma indução é forte se, e só se, for improvável, mas não logicamente impossível, que a sua conclusão seja falsa.

Caso contrário a indução é fraca. Tudo depende, como é óbvio, da força com que as premissas apoiam a conclusão.

Os argumentos indutivos não são, de resto, invulgares nas ciências empíricas. Algumas das descobertas científicas são o resultado de generalizações fortemente apoiadas em observações e experiências realizadas.
O que não significa que essas generalizações não tenham de ser constantemente testadas pelos próprios cientistas.
Uma vez que sabem que não é logicamente impossível que as suas conclusões sejam falsas, ainda que apoiadas em numerosas observações, os cientistas procuram testá-las procurando os contra-exemplos que as podem tornar falsas.

No caso dos cisnes o contra-exemplo acabou por aparecer, mas isso não significa que todos os argumentos indutivos sejam maus. Tudo o que devemos evitar é fazer generalizações apressadas sem procurar avaliar se as premissas que sustentam as nossas conclusões são suficientemente fortes para isso.

Também frequentes nas ciências empíricas são os argumentos sobre causas. Neste tipo de argumentos o que se faz é procurar conexões entre fenómenos de modo a estabelecer uma relação causal entre eles.

A célebre experiência do cão de Pavlov, a qual levou à descoberta do reflexo condicionado, é um exemplo deste tipo de argumento. Pavlov submeteu o cão a determinados estímulos, estudando as suas reacções.

Dessa forma Pavlov conseguiu explicar a relação que existia entre o estímulo produzido e o salivar do cão.

Apesar de este tipo de argumento não ser habitual em filosofia, há, ainda assim, um cuidado a ter: não concluir que um fenómeno é causado por outro porque a este se segue sempre aquele.
Este é um raciocínio muito frequente mas incorrecto. Trata-se, pois, de uma falácia. Essa falácia é conhecida como post hoc.

Um exemplo disso é:

O trovão vem sempre depois do relâmpago.
Logo, o relâmpago é a causa do trovão.

Mesmo sendo verdade que o relâmpago antecede o trovão, é falso que este seja causado por aquele. De facto, tanto o relâmpago como o trovão são causados pelo mesmo fenómeno: uma descarga eléctrica.

Resta-me falar dos argumentos de autoridade. Este tipo de argumento é principalmente utilizado quando queremos apresentar resultados que não são do domínio geral e que dependem de alguma forma de competência técnica ou de conhecimento especial. Nesses casos, nada melhor do que invocar o que os especialistas na matéria em causa afirmam.

A sua forma costuma ser:

X afirma que P.
Logo, P.

Estes argumentos nem sempre são maus. Mas são frequentemente utilizados de forma abusiva. Eis um exemplo de um bom argumento de autoridade:
Carl Sagan diz que há mais estrelas do que grãos de areia em todas as praias da Terra.

Logo, há mais estrelas do que grãos de areia em todas as praias da Terra.
Por que razão é este um bom argumento de autoridade? Porque obedece aos dois critérios seguintes:

A autoridade invocada é reconhecida como tal pelos seus pares; os especialistas não divergem entre si.

São estes mesmos critérios que tornam falaciosos os argumentos de autoridade em filosofia. Como se sabe, seja qual for o assunto, os filósofos discordam entre si. Por isso, ainda que o critério 1 fosse satisfeito, o critério 2 nunca o seria. Utilizar argumentos de autoridade em filosofia é incorrer numa falácia: a falácia do apelo à autoridade.

Contudo, quando, por exemplo, os filósofos enfrentam determinados problemas cuja discussão depende de informação científica disponível, não só podem mas devem apoiar-se naquilo que os especialistas nessa matéria dizem.

Mas sempre com o cuidado de referir claramente quando e onde é que o especialista afirmou tal coisa.
Gostaria ainda de referir uma outra falácia que de alguma forma está relacionada com a autoridade de quem argumenta.

Só que, neste caso, para a desvalorizar.

Essa falácia é conhecida como ad hominem.
Em vez de se discutir o argumento, critica-se a pessoa que o produz.

Assim se procura combater as ideias atingindo as pessoas que as defendem.
Atacar as pessoas em vez das suas ideias é uma falácia, infelizmente muito frequente.

Na verdade, mesmo as piores pessoas do mundo podem utilizar bons argumentos.

E os argumentos não são bons ou maus consoante as pessoas que os produzem.

Entendido!!!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

SILOGISMO DISJUNTIVO

O Silogismo disjuntivo é um silogismo que se apresenta sob a forma de alternativa.



1º disjunto 2º disjunto

Ou |........................| ou |...................................|



Este silogismo pode ser do tipo:

- Modus Ponens (ponendo tollens): o argumento só é legítimo se, ao afirmar-se a verdade de um disjunto, se negar o outro:

Este triângulo ou é isósceles ou escaleno

Ora este triângulo é escaleno

Logo, este triângulo não é isósceles



- Modus Tollens (tollendo ponens): ao negar-se um membro da disjunção (disjunto), afirma-se o outro membro:

O João ou é diligente ou preguiçoso

Ora, o João não é diligente

Logo, o João é preguiçoso.

TEORIA DO SILOGISMO CONDICIONAL

São silogismos em que a premissa maior mão afirma nem nega de modo absoluto, mas a título condicional.

Aplicam-se-lhe uma de entre duas regras.

Exemplo:

Condição ou hipótese: Se |estiver bom tempo |, então |irei passear|

Facto: Está bom tempo

Conclusão: Logo, vou passear.



Regra do Modus Ponens (ponendo ponens): afirmando na segunda premissa o antecedente da hipótese (aceitando o conteúdo do antecedente), afirma-se o consequente (aceita-se o conteúdo expresso no consequente da premissa condicional)
Exemplo:

Condição ou hipótese: Se tiver teste, faço serão

Facto: Ora, não fiz serão

Conclusão: Logo, não fiz teste.



Regra do Modus Tollens (Tollendo Tollens): negando-se na segunda premissa o consequente da condição, nega-se o antecedente dessa mesma condição.


Muito cuidado com as negações e duplas negações, não nos esquecendo o princípio da dupla negação (DN): uma dupla negação equivale a uma afirmação. Exemplo: negar que não é verdade que o João esteja a fumar é afirmar que o João está a fumar.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Regras, Figuras e Modos do Silogismo

1. O silogismo categórico é uma inferência dedutiva. Não se pretende descobrir nada de novo, mas apenas demonstrar a validade de algo que já se conhece.

2. Aceitando certas premissas como verdadeiras, a conclusão é necessariamente válida e verdadeira, se foram cumpridas certas regras de inferência.

Exemplo de uma conclusão inválida com premissas verdadeiras



Todas as baleias são mamíferos

Todos os gatos são mamíferos.

Logo, todos os gatos são baleias.




3. As regras de validade do silogismo são três segundo Aristóteles. Durante a Idade Média foram apontadas oito, e são estas que a tradição acabou por consagrar no seu ensino.



Regras do Silogismo Categórico Regular

Regras dos Termos

Regras

Exemplos Inválidos

1 Ter três termos (sem equívocos): maior, médio e menor.

Todo o touro tem chifres

Touro é uma constelação

Logo, uma constelação tem chifres


T. Maior:chifres;
T. Médio: Touro (animal);
T.Menor: Constelação;


2. Os termos maior e menor não podem ter, na conclusão, maior extensão do que nas premissas.

Tudo o que magoa é mau.

Alguns homens magoam.

Logo, todos os homens são maus

T. Maior: maus;
T.Menor: todos os homens;
T.Médio:magoam.

3. O termo médio tem que ser tomado pelo menos uma vez em toda a sua extensão (universalmente).

A tâmara é um fruto

A laranja é um fruto

Logo, a tâmara é uma laranja.


T. Médio: fruto.


4. O termo médio não deve entrar na conclusão Tâmara é grande

Tâmara é faladora

Portanto, a Tâmara é uma grande faladora.

T. Médio: Tâmara
Regras das Proposições

Regras
Exemplos Inválidos

5. Premissas afirmativas pedem uma conclusão afirmativa Insultar é um acto indigno

Os actos indignos são condenáveis

Logo, insultar não é condenável.

6. De duas premissas negativas nada se pode concluir Nenhum homem é imortal

Os pássaros não são homens

Portanto, os pássaros são imortais.

7. A conclusão segue a parte mais fraca Todos os leões são mamíferos

Alguns animais são leões

Portanto, todos os animais são mamíferos.

8. De duas premissas particulares nada se pode concluir. Algum aluno é preguiçoso

Algum aluno é estudioso

Portanto, alguns alunos estudiosos são preguiçosos.




4. Os modos e figuras do silogismo determinam a sua forma



Modos do Silogimos

Designa-se por modo cada uma das formas que o silogismo pode tomar derivado da quantidade e qualidade das proposições que o constituem.
Cada proposição pode ser dos tipo "A" (universal afirmativa), "E" (universal negativa), "I" (particular afirmativa) ou "O" (particular negativa).

Exemplo do modo A A I;
As baleias são vertebrados (A)

As baleias são animais aquáticos (A)

Logo, alguns animais aquáticos são vertebrados (I).

No total das combinações podemos ter 256 modos possíveis, no entanto são 19 modos são legitimos. Os restantes são sofismas do tipo:

I I A, A I O , E E E, E I A ...

Figuras do Silogismo

Designa-se por figura cada uma das formas que o silogismo pode tomar derivado da posição do termo médio como sujeito ou predicado das proposições. Existem apenas 4 figuras possíveis para o silogismo categórico.
1º. Figura

O termo médio é sujeito da primeira premissa e

predicado da segunda premissa.



Ex. Todo o homem é mortal

António é homem

Logo, António é mortal

M - P

S - M

S - P

S- Sujeito de predicado

P- Predicado da conclusão

M - Termo médio do silogismo



2ª. Figura

O termo médio é predicado nas duas premissas

Ex. Todo o homem é racional

O cão não é racional

Logo, o cão não é homem



P - M

S -M

S - P


3ª. Figura

O termo médio é sujeito nas duas premissas


Ex. Todos os carbonos são corpos simples

Todos os carbonos são condutores eléctricos

Logo, alguns condutores de electricidade são corpos simples





M - P

M -S

S - P




4ª. Figura

O termo médio é predicado na primeira premissa e sujeito na segunda


Ex. Os portugueses são homens

Os homens são mortais

Logo, alguns mortais são portugueses


P - M

M- S

S - P

A lógica

A lógica (do grego clássico λογική logos, que significa palavra, pensamento, idéia, argumento, relato, razão lógica ou princípio lógico), é uma ciência de índole matemática e fortemente ligada à Filosofia. Já que o pensamento é a manifestação do conhecimento, e que o conhecimento busca a verdade, é preciso estabelecer algumas regras para que essa meta possa ser atingida. Assim, a lógica é o ramo da filosofia que cuida das regras do bem pensar, ou do pensar correto, sendo, portanto, um instrumento do pensar. A aprendizagem da lógica não constitui um fim em si. Ela só tem sentido enquanto meio de garantir que nosso pensamento proceda corretamente a fim de chegar a conhecimentos verdadeiros. Podemos, então, dizer que a lógica trata dos argumentos, isto é, das conclusões a que chegamos através da apresentação de evidências que a sustentam. O principal organizador da lógica clássica foi Aristóteles, com sua obra chamada Organon. Ele divide a lógica em formal e material.

Um sistema lógico é um conjunto de axiomas e regras de inferência que visam representar formalmente o raciocínio válido. Diferentes sistemas de lógica formal foram construídos ao longo do tempo quer no âmbito escrito da Lógica Teórica, quer em aplicações práticas na computação e em Inteligência artificial.

Tradicionalmente, lógica é também a designação para o estudo de sistemas prescritivos de raciocínio, ou seja, sistemas que definem como se "deveria" realmente pensar para não errar, usando a razão, dedutivamente e indutivamente. A forma como as pessoas realmente raciocinam é estudado nas outras áreas, como na psicologia cognitiva.

Como ciência, a lógica define a estrutura de declaração e argumento para elaborar fórmulas através das quais estes podem ser codificados. Implícita no estudo da lógica está a compreensão do que gera um bom argumento e de quais argumentos são falaciosos.

A lógica filosófica lida com descrições formais da linguagem natural. A maior parte dos filósofos assumem que a maior parte do raciocínio "normal" pode ser capturada pela lógica, desde que se seja capaz de encontrar o método certo para traduzir a linguagem corrente para essa lógica.

O valor da filosofia

“O valor da filosofia, em grande parte, deve ser buscado na sua mesma incerteza. Quem não tem umas tintas de filosofia é homem que caminha pela vida fora sempre agrilhoado a preconceitos que cresceram no seu espírito sem a cooperação ou o consentimento de uma razão ponderada. O mundo tende, para tal homem, a tornar-se finito, definido, óbvio; Quando começamos a filosofar, pelo contrário, imediatamente caímos na conta de que até os objectos mais familiares conduzem o espírito a certas perguntas a que incompletissimamente se dá resposta . A filosofia sugere numerosas possibilidades que nos conferem amplidão aos pensamentos, descativando-nos da tirania do hábito. Varre o dogmatismo, um tudo nada arrogante e vivifica o sentimento de admiração. ”

Bertrand Russell

A filosofia e os outros saberes

A filosofia é diferente da ciência e da matemática. Ao contrário da ciência, não assenta em experimentações nem na observação, mas apenas no pensamento. E, ao contrário da matemática, não tem métodos formais de prova. A filosofia faz-se colocando questões, argumentando, ensaiando ideias e pensando em argumentos possíveis contra elas e procurando saber como funcionam realmente os nossos conceitos.

A preocupação fundamental da filosofia consiste em questionarmos e compreendermos ideias muito comuns que usamos todos os dias sem pensarmos nelas. Um historiador pode perguntar o que aconteceu em determinado momento do passado, mas um filósofo perguntará: «O que é o tempo?» Um matemático pode investigar as relações entre os números, mas um filósofo perguntará: «O que é um número?» Um físico perguntará de que são constituídos os átomos ou o que explica a gravidade, mas um filósofo irá perguntar como podemos saber que existe qualquer coisas for a das nossas mentes. Um psicólogo pode investigar como é que as crianças aprendem uma linguagem, mas um filósofo perguntará: «Que faz uma palavra significar qualquer coisas?» Qualquer pessoa pode perguntar se entra num cinema sem pagar se está errado, mas um filósofo perguntará: «O que torna uma acção certa ou errada?»



Nagel, Thomas., Que quer dizer tudo isto?, “Introdução”, pp. 8-9.

As questões da filosofia

A filosofia é uma actividade: é uma forma de pensar acerca de certas questões. A sua característica mais marcante é o uso de argumentos lógicos. A actividade dos filósofos é, tipicamente, argumentativa: ou inventam argumentos, ou criticam os argumentos de outras pessoas ou fazem as duas coisas.

Que tipo de coisas discutem os filósofos? Muitas vezes examinam crenças que quase toda a gente aceita acriticamente a maior parte do tempo. Ocupam-se de questões relacionadas com o que podemos chamar vagamente «o sentido da vida»: questões acerca da religião, do bem e do mal, da política, da natureza do mundo exterior, da mente, da ciência, da arte e de muitos outros assuntos. Por exemplo, muitas pessoas vivem as suas vidas sem questionarem as suas crenças fundamentais, tais como a crença de que não se deve matar. Mas porque razão não se deve matar? Não se deve matar em nenhuma circunstância? E, afinal, que quer dizer a palavra «deve»? estas são questões filosóficas. Ao examinarmos as nossas crenças, muitas delas revelam fundamentos firmes; mas algumas não. O estudo da filosofia não só nos ajuda a clarificar de forma precisa aquilo em que acreditamos. Ao longo desse processo desenvolve-se uma capacidade para argumentar de forma coerente sobre um vasto leque de temas – uma capacidade muito útil que pode ser aplicada em muitas áreas.

Warburton, Nigel, Elementos Básicos de Filosofia.

alguma bibliografia...

Enciclopédia de Termos Lógico-Filosóficos-João Branquinho e Desidério Murcho (org).Lisboa. Gradiva, 2001

Dicionário Básico de Filosofia -Hilton Japiassu e Danilo Marcondes.Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editores.

Dicionário Breve de Filosofia-Alberto Antunes, António Estanqueiro e Mário Vidigal.Lisboa.Editorial Presença.2000

Dicionário das Mil Obras de Filosofia-Denis Huisman, Porto.Porto Editora.2001

Dicionário de Obras de Filosofia-Denis Huisman.São Paulo.Martins Fontes.2001

Dicionário de Filósofos-Denis Huisman.São Paulo.Martins Fontes.2001

Dicionário Filosófico (5 Volumes)-M.M.Rosental e P.F.Iudin (Dir.), Lisboa.Editorial Estampa.1972

Dicionário de Filosofia-Jacqueline Russ.Lisboa.Plátano Editora.2000

Dicionário de Filosofia- Sylvain Auroux e Yvonne Weil. Lisboa. Asa. 1993

Dicionário de Filosofia-Simon Blackburn. Lisboa. Gradiva, 1997

Dicionário de Filosofia- Walter Brugger . São Paulo. Editora Herder. 1962

Dicionário de Filosofia (versão abreviada)-José Ferrater Mora.Lisboa Publicações Dom Quixote, 1978

Dicionário de Filosofia -José Ferrater Mora.4 vols. São Paulo. Loyola

Dicionário de Filosofia-Gérard Legrand.Lisboa.Edições 70. 2002

Dicionário de Filosofia-Dagobert D. Runes.Lisboa.Editorial Presença.1990

Dicionário de Filosofia-G.Dorozoi e A.Roussel. Porto. Porto Editora.2000

Dicionário de Filosofia-N.Abbagnano. São Paulo. Editora Meste Jou.1982

Dicionário de Filosofia-N.Abbagnano. São Paulo.Martins Fontes.2000

Dicionário de Filosofia-Mario Bonge.São Paulo.Editora Perspectivas.2001

Dicionário de Filosofia Portuguesa- Pinharanda Gomes.Lisboa.Pub.Dom Quixote.1987

Dicionário das Grandes Filosofias- Lucien Jerphagnon (Dir.).Lisboa.Edições 70

Dicionário do Pensamento Contemporâneo-Manuel Maria Carrilho (Dir.).Lisboa.Publicações D.Quixote.1991

Dicionário Oxford de Filosofia- Simon Blackbum. Rio de Janeiro.Jorge Zahar Editor.

Dicionário Prático de Filosofia-Élisabeth Clément e outros. Lisboa.Terramar, 1997

Dicionário Temático de Filosofia (Larouse)- Julia,Didier. Lisboa. Círculo de Leitores. 1992

Filosofias da Humanidade (As)- Philippe Gaudin, Michel Malberbe.Lisboa. Instituto Jean Piaget.

Logos - Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia (5 Volumes) - João B.Chorão (coord.), Lisboa.Verbo.1992

Nomes e Temas da Filosofia Contemporânea-N.Abbagnano.Lisboa.Pub.Dom Quixote.1990

O meu Dicionário Filosófico -Fernando Salvater. Lisboa.Publicações Dom Quixote, 2000

Polis- Enciclopédia (4 volumes).Lisboa.Verbo

Termos Filosóficos Gregos-Um Léxico Histórico-F.E.Peters, Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian.1974

Vocabulário de Filosofia-Técnico e Crítico (2 Volumes) - André Lalande. Porto.Rés-Editora.

100 Filósofos do Século XX- Stuart Brow, Diane Collinson, Robert Wilkinson. Lisboa. Instituto Jean Piaget.2002

boas pesquisas e leituras.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

dica refente à aula de hoje...

Lógica do Juízo

Definição de Juízo.

Chama-se juízo ao acto do pensamento que consiste na atribuição afirmativa ou negativa de um atributo (Predicado), a um conceito (Sujeito), através de um elemento de ligação (Cópula). O juízo tem assim uma estrutura triádica, fazendo-nos lembrar que a palavra latina ‘pensare ’, que está na origem da nossa palavra ‘pensar’, significa pesar, ou seja, comparar uma coisa com outra (a medida), para daí retirar o conhecimento de um seu atributo (ou característica), neste caso do seu peso. E é interessante vermos que o a estrutura formal do juízo se assemelha à de uma balança:

Sujeito + Cópula + Predicado

‘Alguns homens são europeus’

Definição de juízo categórico: um juízo diz-se categórico, quando a relação entre o sujeito e o predicado é afirmada ou negada sem condições ou restrições.



Classificação dos juízos quanto à quantidade e à qualidade:

Quanto à quantidade os juízos (proposições) podem ser particulares, quando o termo-sujeito é particular, e universais, quando o termo-sujeito é universal. No que diz respeito às inferências, na Lógica Clássica, os juízos com um termo-sujeito singular têm o mesmo valor lógico que os juízos universais, uma vez que os conceitos singulares ocorrem sempre na sua máxima extensão.

Quanto à qualidade, os juízos (proposições) podem ser afirmativos, quando a relação entre o sujeito e o predicado é afirmativa (inclusiva), e negativos, quando a relação entre o sujeito e o predicado é negativa (exclusiva).



Definição d1 - Numa proposição (juízo), um termo diz-se distribuído, quando ocorre na sua máxima extensão (universalmente).

Dado o que ficou estabelecido, existem quatro tipos de juízos categóricos (proposições predicativas categóricas). No quadro seguinte apresentam-se esses quatro tipos de proposição (doravante utilizaremos o termo ‘proposição’ em vez do termo ‘juízo’, já que acima estabelecemos a sua equivalência prática), bem como os símbolos utilizados em Lógica para os denotar. É importante prestar muita atenção ao quadro, uma vez que iremos utilizar os símbolos nele apresentados, para nos referirmos a cada um dos tipos de proposição.



OS DIVERSOS TIPOS DE PROPOSIÇÃO

PROPOSIÇÃO
ESTRUTURA FORMAL

A – Universal Afirmativa
‘Todos os x são y’

I – Particular Afirmativa
‘Alguns x são y’

E - Universal Negativa.
‘Nenhum x é y’

O - Particular Negativa.
‘Alguns x não são y’


Regra Rd1 - Nas proposições universais, o termo-sujeito está sempre distribuído.
Nas proposições negativas, o termo-predicado está sempre distribuído.


De acordo com a Regra Rd1, podemos chegar à conclusão que nas proposições de tipo A, o termo-sujeito está distribuído; nas proposições de tipo O, o termo-predicado está distribuído; nas proposições de tipo E, tanto o termo-sujeito como o termo-predicado estão distribuídos:

DISTRIBUIÇÃO DOS TERMOS

TIPO DE PROPOSIÇÃO A

SUJEITO - distribuído( entenda-se em toda a sua extenção)
PREDICADO - não distribuído( entenda-se que só se verifica parte da sua extenção)

TIPO I

SUJEITO - não distríbuido
PREDICADO - não distríbuido

TIPO E

SUJEITO - distribuído
PREDICADO - distribuído

TIPO O

SUJEITO - não distríbuido
PREDICADO - distribuído




Regra FnP Todos os enunciados utilizados nas inferências da Lógica Clássica devem estar reduzidos à sua Forma Normal ou Padrão. No caso das proposições, a sua Forma Normal compreende os seguintes elementos:

Quantificador+Sujeito+Cópula+Predicado.

O quantificador é o elemento da proposição que nos indica a sua quantidade e ocorre sempre no início da proposição. Eis os quantificadores-padrão que vamos utilizar: Todos; Alguns; Nenhum.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Heraclito




Heráclito (c. 540-480 a.C.), que era de Éfeso, na Ásia Menor, propunha que a matéria básica do Universo seria o fogo. Pensava também que a mudança constante, ou o fluxo, seria a característica mais elementar da Natureza. Pode-se talvez dizer que Heráclito acreditava mais do que Parmênides naquilo que percebia.

"Tudo flui", disse Heraclito. Tudo está em fluxo e movimento constantes, nada permanece. Por conseguinte, "não entramos duas vezes no mesmo rio". Quando entro no rio pela segunda vez, nem eu nem o rio somos os mesmos.
Heráclito assinalou que o mundo se caracterizaria por opostos. Ele acreditava que tanto o bem como o mal teriam um lugar inevitável na ordem das coisas, e que sem essa constante interação de opostos o mundo deixaria de existir.
"Deus é dia e noite, inverno e verão, guerra e paz, fome e saciedade", disse Heráclito. Ele usou a palavra 'Deus', mas evidentemente não se referia aos deuses da mitologia grega. Para Heráclito, Deus - ou a Deidade - seria algo que incluísse o mundo inteiro.

Em lugar da palavra "Deus", Heráclito usava com freqüência a palavra grega logos, que significa razão. Embora não pensemos sempre da mesma forma, ou tenhamos o mesmo grau de razão, Heráclito estava convencido de que deveria haver uma espécie de "razão universal", ou "lei universal", guiando tudo o que ocorre na Natureza.

Trata-se de algo pelo qual todos os seres humanos são guiados - e, no entanto, Heráclito pensava, a grande maioria das pessoas vive segundo a razão individual. De modo geral, ele desprezava o próximo. "As opiniões da maioria", disse ele, "são como brinquedos para as crianças."
Assim, no centro de todo esse fluxo constante e essa interação de opostos, Heráclito divisou uma Entidade, ou unidade. Esse "algo", que seria a origem de todas as coisas, ele chamou de Deus, ou logos.

Parménides




"O Ser é, o não-ser não é; e: o que é não pode não-ser"
A força com que Parmênides expõe aos ouvintes as suas doutrinas fundamentais não deriva de uma convicção dogmática, mas da vitória da necessidade do pensamento. O conhecimento é também uma absoluta ananke para Parmênides, que ainda o denomina dike ou morra, evidentemente por influência de Anaximandro. É o mais alto fim a que a investigação humana pode aspirar. Mas quando diz que Dike mantém o ser fixo nos seus limites, sem qualquer possibilidade de dissolução. De tal modo que já não pode nascer nem perecer, vê-se que a sua Dike tem uma função contrária à de Anaximandro, a qual se manifesta na geração e corrupção das coisas. A Dike de Parmênides, que separa o ser de toda a geração e corrupção e o faz permanecer imóvel em si mesmo, é a necessidade implícita no conceito do Ser, interpretada como "aspiração do Ser à justiça". Nas frases insistentemente repetidas "o Ser é, o não-ser não é; e: o que é não pode não-ser", Parmênides exprime a necessidade do pensamento da qual deriva a impossibilidade de realizar no conhecimento a contradição lógica.

Esta força daquilo que se adquiriu no puro pensamento é a grande descoberta que domina toda a filosofia eleática. Determina a forma polémica dentro da qual o seu pensamento se desenvolve. O que nas suas proposições fundamentais aparece como a descoberta de uma lei lógica é para ele um conhecimento objectivo, cujo conteúdo o coloca em conflito com toda a anterior filosofia da natureza. Se é certo que o Ser nunca não é e o não-Ser nunca é, torna-se evidente para Parmênides que o devir é impossível. A aparência, porém, revela-nos algo de diferente. Os filósofos naturalistas, que nela confiam cegamente, sustentam que o Ser vem do não-Ser e no não-Ser se dissolve. No fundo, é a opinião de todos nós. Confiamos nos olhos e nos ouvidos em vez de perguntarmos ao pensamento, o único que pode guiar-nos à certeza infalível. O pensamento é a vista e o ouvido espiritual do Homem.

Aqueles que não o seguem são como cegos e surdos, e emaranham-se em contradições sem saída. Não têm outro remédio senão admitir que o Ser e o não-Ser são e não são o mesmo, ao mesmo tempo. Se derivarmos o Ser do não-Ser, admitimos que a sua origem é incognoscível. Ao verdadeiro conhecimento deve corresponder um objecto. Assim, se de facto buscamos a verdade, temos de nos afastar da geração e corrupção, que levam a proposições impensáveis, e nos ater ao puro Ser, que no pensamento nos é dado. O pensamento e o Ser são uma e a mesma coisa.

Empédocles




Visto na antiguidade como profeta e mago, Empédocles também foi político, orador e poeta. Diz a lenda que encerrou a sua brilhante carreira atirando-se na cratera do vulcão Etna, para dar aos seguidores uma demonstração convincente de divindade.

Empédocles nasceu em Agrigento, Sicília, então parte da Magna Grécia, por volta de 490 a.C. Continuador da tradição dos jônicos, desenvolveu uma interpretação do universo em que todos os fenómenos da natureza eram entendidos como resultado da mistura de quatro elementos: água, fogo, ar e terra. Esses princípios, também chamados "raízes", seriam eternamente subsistentes, jamais engendrados, e de sua união ou separação nasceriam e pereceriam todas as coisas. Os quatro elementos se uniriam sob a força do amor e se separariam sob o influxo do ódio. Os mananciais e os vulcões seriam provas da existência de água e fogo no interior da Terra.

Segundo Empédocles, no poema Katharmoi (As purificações), a intervenção do ódio está na origem de todas as coisas e dos seres individuais, que se vão diversificando até a separação total e o domínio absoluto do mal. Entretanto, o princípio do amor voltará a triunfar, unificando e misturando tudo até a configuração de uma só coisa, Sphairos, a esfera perfeita, na qual o mundo presente tem princípio e fim. No mundo actual há seres individuais e, portanto, ódio e injustiça, o que exige um processo de purificação que só terminará quando o amor triunfar. Mas esse triunfo é ainda relativo: a evolução dos mundos é um processo no qual se manifesta um domínio alternado do amor e do ódio, do bem e do mal. Apesar da lenda, supõe-se que a morte de Empédocles tenha ocorrido no Peloponeso, Grécia, por volta de 430 a.C.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Tales de Mileto





Nenhum escrito de Tales sobrevive, nem há fontes contemporâneas a seu respeito. As realizações que lhe são atribuídas baseiam-se em referências tardias ou em lendas mantidas pela tradição. Segundo Heródoto, Tales foi um estadista de visão que advogou a federação das cidades jônicas da região do Egeu. Segundo Aristóteles, foi ele o primeiro a afirmar que a água era a substância fundamental do universo e de toda a matéria.

Considerado o primeiro filósofo grego, Tales nasceu por volta de 625 a.C. em Mileto, onde teria, como um dos sete sábios, fundando a escola que conserva o nome de sua cidade natal. Já se pretendeu ver, na escola de Mileto, quer dizer, em Tales, Anaximandro e Anaxímenes, a expressão mais autêntica do espírito jônico, ao qual se oporiam os eleatas, representantes do espírito dórico. A nova concepção de mundo dos milésios denominou-se logos, palavra grega que significa razão, palavra ou discurso. As características do logos, que o contrapõem ao pensamento mítico, são a imanência (oposta à transcendência), o naturalismo e o abandono do antropomorfismo. Esboçou-se assim a primeira tentativa de explicar racionalmente o universo, sem recorrer a entidades sobrenaturais.

Os filósofos da escola de Mileto eram homens de saber prático, acostumados a viajar, dedicados à política e ao trabalho intelectual. A partir de factos particulares, conceituaram a realidade como um todo organizado e animado. Diante da multiplicidade e da mutabilidade das aparências, buscavam um princípio unificador imutável, ao qual chamaram arké - origem, substrato e causa de todas as coisas. Em geometria, atribui-se a Tales a invenção de cinco teoremas. Diz-se também que ele usou os seus conhecimentos geométricos para medir as pirâmides egípcias e para calcular a distância entre navios no mar e a costa. Referências como essas, ainda que às vezes possam não corresponder à verdade, ilustram, todavia a reputação que o cercava.

Tales teria sido um precursor do pensamento científico ao substituir a explicação mítica da origem do universo pela explicação física de sua cosmologia baseada na água. Para ele, a água era o princípio formador da matéria porque o que é quente precisa da humidade para viver, o morto se resseca, todos os germes são húmidos e os alimentos estão cheios de seiva.
É natural que as coisas se nutram daquilo de que provêm. A água é o princípio da natureza húmida, que entretém todas as coisas, e a terra repousa sobre a água.

As combinações se fazem pela mistura e pela mudança dos elementos, e o mundo é um só. A esfera do céu está dividida em cinco círculos, ou zonas: ártica, trópico de verão, equador, trópico de inverno e antártica. Primeiro astrónomo a explicar o eclipse do Sol, ao verificar que a Lua é iluminada por esse astro, Tales de Mileto, segundo o historiador grego Diógenes Laércio, morreu com 78 anos durante a 58ª Olimpíada (548-545 a.C.).