segunda-feira, 9 de novembro de 2009

As regras do silogismo Categórico

Regras do Silogismo Categórico Regular
Regras dos Termos

1.
Ter três termos (sem equívocos): maior, médio e menor.
Exemplos inválidos:
Todo o touro tem chifres
Touro é uma constelação
Logo, uma constelação tem chifres
T. Maior:chifres; T. Médio: Touro (animal); T.Menor: Constelação; 4º. Termo: Touro (constelação).
2
Os termos maior e menor não podem ter, na conclusão, maior extensão do que nas premissas.
Tudo o que magoa é mau.
Alguns homens magoam.
Logo, todos os homens são maus
T. Maior: maus; T.Menor: todos os homens.
3
O termo médio tem que estar distribuído (em toda a extensão)pelo menos uma vez (universalmente).
A tâmara é um fruto
A laranja é um fruto
Logo, a tâmara é uma laranja.
T. Médio: fruto.
4
O termo médio não deve entrar na conclusão
Tâmara é grande
Tâmara é faladora
Portanto, a Tâmara é uma grande faladora.
T. Médio: Tâmara

Regras das Proposições
Exemplos Inválidos
5
Premissas afirmativas pedem uma conclusão afirmativa
Insultar é um acto indigno
Os actos indignos são condenáveis
Logo, insultar não é condenável.
6
De duas premissas negativas nada se pode concluir
Nenhum homem é imortal
Os pássaros não são homens
Portanto, os pássaros são imortais.
7
A conclusão segue a parte mais fraca
Todos os leões são mamíferos
Alguns animais são leões
Portanto, todos os animais são mamíferos.
8
De duas premissas particulares nada se pode concluir.
Alguns alunos são preguiçosos
Alguns alunos são estudiosos
Portanto, alguns estudiosos são preguiçosos.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

o que é a lógica...

É comun referir-se ao lógico para expressar aquilo que parece evidente ou razoável, por exemplo: "é lógico que a seleção da Alemanha vença a seleção da Arábia Saudita". Equivale àquilo que consideramos óbvio ou, pelo menos, defensível. Na etimologia, Lógica significa a ciência do logos, que quer dizer palavra, proposição, oração e também pensamento, tornando-se equívoca a sua noção (Logos, 1991, p. 444). Mas de modo rudimentar, o estudo da lógica é o estudo dos métodos e princípios que servem para diferenciar o raciocínio correto do incorreto. Embora não queira significar que só é possível um argumento correto por meio da lógica (Toulmin, e. g., defendia que as pessoas normais não usam lógica (formal) na argumentação do dia-a-dia).

A lógica não é a ciência das leis do pensamento, pois, como diz Copi (1978, p. 20), "todo raciocínio é pensamento, mas nem todo pensamento é raciocínio". Parmênides, na Grécia, já tinha desenvolvido um esboço dos aspectos lógicos, mas, o seu primeiro e amplo estudo deve-se a Aristóteles, investigações reunidas no Organon, título que foi dado pelos comentadores.
Lá estão definidos, por exemplo, o princípio de identidade (lógico e ontológico): o ser é; o princípio de contradição: o ser é, o não ser não é.
O que hoje chamamos de lógica, Aristóteles chamava de "analítico" ou "seguindo as premissas". Para ele, lógico tinha o sentido do que modernamente significa "verosímil" ou "gnoseológico" (Logos, 1991, p.445-446).

O indivíduo que tem conhecimento da lógica possui mais facilidade para organizar e apresentar suas ideias. Ele tem capacidade para distinguir o essencial do superficial. Usar a lógica na pesquisa, por exemplo, facilita a fundamentação das conclusões alcançadas, aumentando, deste modo, tanto a inteligibilidade do trabalho final quanto a credibilidade das conclusões defendidas. Além disso, a lógica facilita a análise das idéias apresentadas por outros (CARRAHER, 1983, P. 57). sem contar que é praticamente impossível bem compreender os teóricos da argumentação jurídica (e. g., Alexy, Atienza) sem um conhecimento dos fundamentos lógicos.

Premissas e conclusões
Comecemos com o conceito de inferência:

"A inferência é um processo pelo qual se chega a uma
proposição, afirmada na base de uma ou outras mais
proposições aceitas como ponto de partida do
processo" (grifei - Copi, 1978, p. 21).
Para o lógico não interessa tanto o processo de inferência como interessam as proposições, que são pontos inicial e final do processo, e as relações entre elas.

Para qualquer inferência existe um argumento correspondente. "Um argumento é qualquer grupo de proposições tal que se afirme ser uma delas derivada das outras, as quais são consideradas provas evidentes da verdade da primeira" (grifei - Copi, 1978, p. 23).

Observe o velho e aborrecido exemplo de um argumento, transcrito em inglês para variar em alguma coisa:

Sócrates is a man.
All men are mortal.
Therefore, Socrates is mortal.
As premissas são "Sócrates is a man" e "All men are mortal". Enquanto que "Therefore", diriamos, é um símbolo de um argumento (um indicador) e a conclusão é "Sócrates is mortal". Claro que na vida real não há um corte tão claro naquilo que argumentamos (Newton-Smith, 1994, p. 01).

Para o lógico não interessa tanto o processo de inferência como interessam as proposições, que são pontos inicial e final do processo, e as relações entre eles.

Proposição é normalmente usado para expressar o significado de uma sentença ou oração declarativa. Note que "proposição" e "enunciado" não são sinónimos, mas no contexto lógico são usados em sentido quase idêntico.

"A conclusão de um argumento é aquela que se afirma
com base nas outras proposições desse mesmo argumento, e,
por sua vez, essas outras proposições que são enunciadas
como prova ou razões para aceitar a conclusão são as
premissas desse argumento" (Copi, 1978, p. 23).
Oportuno esclarecer que "premissa" e "conclusão" são termos relativos, uma só proposição pode ser premissa num argumento e conclusão noutro. Como diz Copi (1978, p. 23), isoladamente, nenhuma proposição é uma premissa ou uma conclusão. "Só é premissa quando ocorre como pressuposição num argumento ou raciocínio. Só é conclusão quando ocorre num argumento em que se afirma decorrer das proposições pressupostas nesse argumento". Deste modo premissa e conclusão são termos relativos, como empregador e empregado, dependem do contexto: empregador para a sua doméstica, empregado para a empresa que trabalha.

Frequentemente, a conclusão é apresentada (enunciada)no final do argumento ou intercalada entre as premissas.

No mínimo, um argumento envolve duas proposições: uma conlusão e uma premissa (ou mais). Para se distinguir um argumento correto de um incorreto é preciso, antes de mais, reconhecer quando os argumentos ocorrem e identificar as suas premissas e conclusões.

Há palavras que ajudam a identificar as premissas (indicadores das premissas), como: porque, desde que, pois que, como, dado que, tanto mais que, pela razão de que.

Palavras como: portanto, daí, logo, assim, consequentemente, segue-se que, podemos inferir, podemos concluir, são indicadores da conclusão.

Mas precisa ficar claro que nem todos os trechos com um argumento trazem esses indicadores especiais. Na maioria das vezes, o contexto é muito mais útil. Além disso, há proposições que são formuladas em modos axiomáticos, como se não existisse discusão sobre elas, o que leva a concluir que se tratam de premissas.

Atenção: Nem tudo que é dito no curso de um argumento é premissa ou conclusão desse argumento. O trecho pode simplesmente conter material que é irrelevante para o argumento, mas que fornece informações importantes para que o leitor compreenda o argumento. Observe o seguinte exemplo de um trecho de Schopenhauer apud Copi (1978, p. 25):

"Se o Código Penal proíbe o suicídio, isso não constitui um
argumento válido na Igreja; e, além disso, a proibição é
ridícula; pois que penalidade poderá assustar um homem que
não teme a própria morte?" (em Estudos de Pessimismo).
O material antes do primeiro ponto-e-vírgula não é premissa nem conclusão, mas, sem ele, não seria possível saber a que "proibição" a conclusão se refere. No caso, premissa é: nenhuma penalidade pode assustar um homem que não teme a própria morte - apresentada na forma de pergunta retórica, usada mais para fazer uma afirmação do que realmente perguntar. A conclusão, por sua vez é: a proibição de suicídio do Código Penal é rídícula.



bom estudo...

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

dicionário escolar...

aqui tens um bom dicionário escolar...
dá lá um saltinho...


http://www.defnarede.com/usar.html

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A história da lógica

segue este link e descobre a história da lógica em todas a s grandes civilizações!!!
boa pesquisa...


http://www.professorfenelon.com/logico/default.asp?id=12&mnu=12

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

a lógica fala verdade ??? ou interessa a sua validade...

A validade só se coloca ao nível do argumento mas a verdade apenas se pode verificar ao nível da proposição e, assim, a validade não depende do valor lógico de verdade das premissas à excepção de um único caso, quando as premissas são ambas verdadeiras, a conclusão nunca pode ser falsa.

Mas, afinal, o que são estes dois valores lógicos?
O valor de verdade é o valor lógico das proposições, ou seja, é a adequação do dito com a realidade. Por seu turno, o valor de validade é o valor lógico do argumento, ou seja, a obediência às regras do discurso interno e do pensamento.
S é P :
sujeito (S), é aquele sobre o qual se afirma ou se nega algo.

cópula (é - verbo ser), é o elemento que faz a ligação entre o sujeito e o predicado.

predicado(P), é a qualidade, aquilo que se diz do sujeito.

Existem ainda outros dois tipos diferentes de argumento, o argumento indutivo e o argumento dedutivo:

O argumento indutivo é aquele em que, a partir de uma observação de casos particulares, se generaliza a conclusão para todos o universo dos casos particulares.

O argumento dedutivo é aquele em que a conclusão é necessariamente verdadeira se as premissas também o forem. Parte do geral para o particular, ou seja, caso o argumento seja dedutivamente válido, se duas premissas forem verdadeiras a conclusão não pode, em caso algum, ser falsa.

Com estas noções podemos, então, classificar os argumentos em sólidos (bons ou correctos) ou em maus (fracos ou incorrectos). Ou seja, vamos então classificar os argumentos quanto à sua solidez :

Argumento mau:
argumento válido que tem proposições falsas
argumento inválido que tem proposições verdadeiras.

Argumento sólido:
argumento válido que tem proposições verdadeiras.


bom estudo.

nova escola ... novos conhecimentos...

olá boa gente...
aqui vão encontrar as dicas de que vos falei na sala de aula...
para já, desejo boas pesquisas e leituras...
a todos um excelente ano lectivo 2009/2010

quarta-feira, 11 de março de 2009

John Rawls




John Rawls - (1921-2002) Filósofo moral e político americano considerado o principal filósofo político do séc. XX. As ideias de Rawls inserem-se na tradição do contrato social de Locke, Rousseau e Kant. Rawls pensa que se as pessoas tiverem de escolher os princípios (ver princípio) de justiça sem saber como poderão ser por eles afectados, escolherão princípios justos. Imagina, assim, uma experiência mental em que todas as pessoas se encontram numa «posição original» sob um «véu de ignorância», isto é, em que desconhecem quais as suas aptidões, posição social, riqueza, religião e concepção de valor e de bem. Nesta situação, pensa Rawls, as pessoas chegarão por um contrato social hipotético àquilo a que chama justiça como equidade. Esta concepção de justiça é expressa por dois princípios, um que garante liberdades básicas iguais (ver liberdade) para todos – como as políticas, de expressão e reunião, de consciência e de pensamento, etc. –, e outro que estabelece que as desigualdades devem ser distribuídas de forma a beneficiarem todos e que devem decorrer de posições e funções a que todos tenham acesso. Este último princípio implica que a riqueza seja distribuída de modo a fazer com que os que estão em pior situação fiquem tão bem quanto possível. Uma sociedade justa será liberal (ver liberalismo), democrática (ver democracia) e um sistema de mercado no qual se procede à distribuição da riqueza e em que pessoas com capacidades e motivações iguais têm possibilidades iguais de sucesso, independentemente da classe social em que tenham nascido.

in. Dicionário Escolar de Filosofia, Org. Aires Almeida, Plátano, 2003 (Alvaro Nunes)

Teoria

A teoria de Rawls constitui, em grande parte, uma reacção ao utilitarismo clássico. De acordo com esta teoria, se uma acção maximiza a felicidade, não importa se a felicidade é distribuída de maneira igual ou desigual. Grandes desníveis entre ricos e pobres parecem em princípio justificados. Mas na prática o utilitarismo prefere uma distribuição mais igual. Assim, se uma família ganha 5 mil euros por mês e outra 500, o bem-estar da família rica não diminuirá se 500 euros do seu rendimento forem transferidos para a família pobre, mas o bem-estar desta última aumentará substancialmente. Isto compreende-se porque, a partir de certa altura, a utilidade marginal do dinheiro diminui à medida que este aumenta. (Chama-se "utilidade marginal" ao benefício comparativo que se obtém de algo, por oposição ao benefício bruto: achar uma nota de 100 euros representa menos benefício para quem ganha 20 mil euros por mês do que para quem ganha apenas 500 euros por mês.) Deste modo, uma determinada quantidade de riqueza produzirá mais felicidade do que infelicidade se for retirada dos ricos para dar aos pobres. Tudo isto parece muito sensato, mas deixa Rawls insatisfeito. Ainda que o utilitarismo conduza a juízos correctos acerca da igualdade, Rawls pensa que o utilitarismo comete o erro de não atribuir valor intrínseco à igualdade, mas apenas valor instrumental. Isto quer dizer que a igualdade não é boa em si — é boa apenas porque produz a maior felicidade total.

Por consequência, o ponto de partida de Rawls terá de ser bastante diferente. Rawls parte então de uma concepção geral de justiça que se baseia na seguinte ideia: todos os bens sociais primários — liberdades, oportunidades, riqueza, rendimento e as bases sociais da auto-estima (um conceito impreciso) — devem ser distribuídos de maneira igual a menos que uma distribuição desigual de alguns ou de todos estes bens beneficie os menos favorecidos. A subtileza é que tratar as pessoas como iguais não implica remover todas as desigualdades, mas apenas aquelas que trazem desvantagens para alguém. Se dar mais dinheiro a uma pessoa do que a outra promove mais os interesses de ambas do que simplesmente dar-lhes a mesma quantidade de dinheiro, então uma consideração igualitária dos interesses não proíbe essa desigualdade. Por exemplo, pode ser preciso pagar mais dinheiro aos professores para os incentivar a estudar durante mais tempo, diminuindo assim a taxa de reprovações. As desigualdades serão proibidas se diminuírem a tua parte igual de bens sociais primários. Se aplicarmos este raciocínio aos menos favorecidos, estes ficam com a possibilidade de vetar as desigualdades que sacrificam e não promovem os seus interesses.

Mas esta concepção geral ainda não é uma teoria da justiça satisfatória. A razão é que a ideia em que se baseia não impede a existência de conflitos entre os vários bens sociais distribuídos. Por exemplo, se uma sociedade garantir um determinado rendimento a desempregados que tenham uma escolaridade baixa, criará uma desigualdade de oportunidades se ao mesmo tempo não permitir a essas pessoas a possibilidade de completarem a escolaridade básica. Há neste caso um conflito entre dois bens sociais, o rendimento e a igualdade de oportunidades. Outro exemplo é este: se uma sociedade garantir o acesso a uma determinada escolaridade a todos os seus cidadãos e ao mesmo tempo exigir que essa escolaridade seja assegurada por uma escola da área de residência, no caso de uma pessoa preferir uma escola fora da sua área de residência por ser mais competente e estimulante, gera-se um conflito entre a igualdade de oportunidades no acesso à educação e a liberdade de escolher a escola que cada um acha melhor.

Como podes ver, a concepção geral de justiça de Rawls deixa estes problemas por resolver. Será então indispensável um sistema de prioridades que justifique a opção por um dos bens em conflito. E nesse caso, se escolhemos um bem em detrimento de outro, é porque temos uma razão forte para considerar um dos bens mais prioritário do que outro. Nesse sentido, Rawls divide a sua concepção geral em três princípios:

Princípio da liberdade igual: A sociedade deve assegurar a máxima liberdade para cada pessoa compatível com uma liberdade igual para todos os outros.
Princípio da diferença: A sociedade deve promover a distribuição igual da riqueza, excepto se a existência de desigualdades económicas e sociais gerar o maior benefício para os menos favorecidos.
Princípio da oportunidade justa: As desigualdades económicas e sociais devem estar ligadas a postos e posições acessíveis a todos em condições de justa igualdade de oportunidades.
Estes três princípios formam a concepção de justiça de Rawls. Mas por si só estes princípios não resolvem conflitos como os que viste. Se queres ter uma espécie de guia nas tuas escolhas, é preciso ainda estabelecer uma ordem de prioridades entre os princípios. Assim, o princípio da liberdade igual tem prioridade sobre os outros dois e o princípio da oportunidade justa tem prioridade sobre o princípio da diferença. Atingido um nível de bem-estar acima da luta pela sobrevivência, a liberdade tem prioridade absoluta sobre o bem-estar económico ou a igualdade de oportunidades, o que faz de Rawls um liberal. A liberdade de expressão e de religião, assim como outras liberdades, são direitos que não podem ser violados por considerações económicas. Por exemplo, se já tens um rendimento mínimo que te permite viver, não podes abdicar da tua liberdade e aceitar a restrição de não poderes sair de uma exploração agrícola na condição de passares a ganhar mais. Outro exemplo que a teoria de Rawls rejeita seria o de abdicares de gozar de liberdade de expressão para um dia teres a vantagem económica de não te serem cobrados impostos.

Em cada um dos princípios mantém-se a ideia de distribuição justa. Assim, uma desigualdade de liberdade, oportunidade ou rendimento será permitida se beneficiar os menos favorecidos. Isto faz de Rawls um liberal com preocupações igualitárias. Considera mais uma vez alguns exemplos. Um sistema de ensino pode permitir aos estudantes mais dotados o acesso a maiores apoios se, por exemplo, as empresas em dificuldade vierem a beneficiar mais tarde do seu contributo, aumentando os lucros e evitando despedimentos. Outro caso permitido é o de os médicos ganharem mais do que a maioria das pessoas desde que isso permita aos médicos ter acesso a tecnologia e investigação de ponta que tornem mais eficazes os tratamentos de certas doenças e desde que, claro, esses tratamentos estejam disponíveis para os menos favorecidos.

As liberdades básicas a que Rawls dá atenção são os direitos civis e políticos reconhecidos nas democracias liberais, como a liberdade de expressão, o direito à justiça e à mobilidade, o direito de votar e de ser candidato a cargos públicos.

A parte mais disputável da teoria de Rawls é a que diz respeito à exigência de distribuição justa de recursos económicos — o que se compreende. Uma vez resolvido o problema dos direitos e liberdades básicas nas sociedades democráticas liberais, o grande problema com que estas sociedades se deparam é o de saber como devem ser distribuídos os recursos económicos — trata-se do problema da justiça distributiva. Ora, como essa exigência de distribuição justa é expressa pelo princípio da diferença, serão submetidos à tua avaliação crítica os argumentos de Rawls em defesa desse princípio.

terça-feira, 10 de março de 2009

Justiça Aristotélica





Para Aristóteles a definição das acções éticas não são só definidas pela virtude, pelo bem e pela obrigação, mas também a deliberação, decisão ou escolha. Deliberamos e decidimos sobre tudo aquilo que para ser e acontecer, depende da nossa vontade e de nossa acção, sobre o possível. Portanto, Aristóteles acrescenta à consciência moral a vontade guiada pela razão como outro elemento fundamental da vida ética.

Conceito aristotélico de justiça

Para Aristóteles, a justiça é a virtude da "Equidade", que tem por objecto ordenar e dirigir a convivência humana segundo o critério dessa "Equidade". Neste sentido Aristóteles divide a justiça entre:

- Justiça Distributiva - É aquela que tem de presidir as relações entre a sociedade e o indivíduo. Tem por objecto a igualdade da sociedade.Fundamenta na igualdade proporcional, e mediante esta justiça se busca estabelecer uma certa equidade entre pessoas e situações que por sua própria natureza são desiguais.

- Justiça Correctiva - É a que se dá entre indivíduos. Tem por finalidade que as relações entre os cidadãos se estabeleça nos mesmos direitos para todos. Fundamenta-se no princípio da igualdade.

Aristóteles subdivide a Justiça Corretiva em duas:

Comutativa: É a justiça que regula as relações de um cidadão com outro, sobre a base da igualdade, como acontece em um contrato.

Judicial: É quando essa igualdade não foi estabelecida pelas partes, ou não conseguiram fazê-lo, então é chamado um juiz para estabelecê-la através de uma sentença.

quinta-feira, 5 de março de 2009

O Método





Descartes quer estabelecer um método universal, inspirado no rigor matemático e nas suas "longas cadeias de razão".

1. - A primeira regra é a evidência : não admitir "nenhuma coisa como verdadeira se não a reconheço evidentemente como tal". Em outras palavras, evitar toda "precipitação" e toda "prevenção" (preconceitos) e só ter por verdadeiro o que for claro e distinto, isto é, o que "eu não tenho a menor oportunidade de duvidar". Por conseguinte, a evidência é o que salta aos olhos, é aquilo de que não posso duvidar, apesar de todos os meus esforços, é o que resiste a todos os assaltos da dúvida.

2. - A segunda, é a regra da análise: "dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas forem possíveis".

3. - A terceira, é a regra da síntese : "concluir por ordem os meus pensamentos, começando pelos objectos mais simples e mais fáceis de conhecer para, aos poucos, ascender, como que por meio de degraus, aos mais complexos".

4. - A última á a dos "desmembramentos tão complexos... a ponto de estar certo de nada ter omitido".

O método tornou-se muito célebre, porque os séculos posteriores viram-no como uma manifestação do livre exame e do racionalismo.

a) Os filósofos do século XVIII estenderão este método a dois domínios de que Descartes,o excluiu expressamente: o político e o religioso (Descartes é conservador em política e coloca as "verdades da fé" ao abrigo de seu método).

b) O método é racionalista porque a evidência de que Descartes parte não é, de modo algum, a evidência sensível e empírica. Os sentidos enganam-nos, e as suas indicações são confusas e obscuras, só as idéias da razão são claras e distintas. O acto da razão que percebe directamente os primeiros princípios é a intuição. A dedução limita-se a veicular, ao longo das belas cadeias da razão, a evidência intuitiva das "naturezas simples". A dedução nada mais é do que uma intuição continuada.

A Metafísica

No Discurso sobre o Método, Descartes pensa sobretudo na ciência. Para bem compreender sua metafísica, é necessário ler as Meditações.

1. - Todos sabem que Descartes inicia o seu itinerário espiritual com a dúvida. Mas é necessário compreender que essa dúvida tem um outro alcance que a dúvida metódica do cientista. Descartes duvida voluntária e sistematicamente de tudo, desde que possa encontrar um argumento, por mais frágil que seja. Por conseguinte, os instrumentos da dúvida nada mais são do que os auxiliares psicológicos, de uma ascese, os instrumentos de um verdadeiro "exército espiritual".
Duvidemos dos sentidos, uma vez que eles frequentemente nos enganam, pois, diz Descartes, nunca tenho certeza de estou a sonhar ou se estou desperto! (Quantas vezes acreditei-me vestido com o "robe de chambre", ocupado a escrever algo junto à lareira; na verdade, "estava despido em meu leito").

Duvidemos também das próprias evidências científicas e das verdades matemáticas!

Não é verdade - quer eu sonhe ou esteja desperto - que 2 + 2 = 4? Mas se um génio maligno me enganasse, se Deus fosse mau e me iludisse quanto às minhas evidências matemáticas e físicas? Tanto quanto duvido do Ser, sempre posso duvidar do objecto...

2. - Existe, porém, uma coisa de que não posso duvidar, mesmo que o demónio queira sempre enganar-me. Mesmo que tudo o que penso seja falso, resta a certeza de que eu penso. Nenhum objecto de pensamento resiste à dúvida, mas o próprio acto de duvidar é indubitável. "Penso, cogito, logo existo, ergo sum" . Não é um raciocínio (apesar do logo, do ergo), mas uma intuição, e mais sólida que a do matemático, pois é uma intuição metafísica, metamatemática. Ela trata não de um objecto, mas de um ser. Eu penso, Ego cogito (e o ego, é muito mais que um simples acidente gramatical do verbo cogitare). O cogito de Descartes, portanto, não é, como já se disse, o acto de nascimento do que, em filosofia, chamamos de idealismo (o sujeito pensante e suas ideias como o fundamento de todo o conhecimento), mas a descoberta do domínio ontológico (estes objectos que são as evidências matemáticas remetem a este ser que é o pensamento).

3. - Neste nível, o momento do seu itinerário espiritual, Descartes é solipsista(Um solipsista é alguém que acredita que ele próprio é a única coisa que realmente existe). Ele só tem a certeza do seu ser, isto é, do seu ser pensante (pois, sempre duvida do objecto que é o corpo; a alma, diz Descartes nesse sentido, "é mais fácil de ser conhecida que o corpo").

Dentre as ideias do meu cogito existe uma inteiramente extraordinária. É a ideia de perfeição, e de infinito. Não posso tê-la tirado de mim mesmo, visto que sou finito e imperfeito. Eu, sou tão imperfeito, que tenho a ideia de Perfeição, só posso tê-la recebido de um Ser perfeito que me ultrapassa e que é o autor do meu ser. Por conseguinte, eis demonstrada a existência de Deus. E nota-se que se trata de um Deus perfeito, que, por conseguinte, é todo bondade. Eis o fantasma do génio maligno exorcizado. Se Deus é perfeito, ele não pode ter querido enganar-me e todas as minhas ideias claras e distintas são garantidas pela veracidade divina. Uma vez que Deus existe, posso crer na existência do mundo.
Compreenda-se que, para tanto, não tenho o direito de guiar-me pelos sentidos (cujas mensagens permanecem confusas e que só têm um valor de sinal para os instintos do ser vivo). Só posso crer no que me é claro e distinto (por exemplo: na matéria, o que existe verdadeiramente é o que é claramente pensável, isto é, a extensão e o movimento).

Alguns críticos, acham que Descartes caía um círculo vicioso: a evidência conduz-me a Deus e Deus garante-me a evidência! Mas não se trata da mesma evidência. A evidência ontológica que, pelo cogito, me conduz a Deus fundamenta a evidência dos objectos matemáticos. Por conseguinte, a metafísica tem, para Descartes, uma evidência mais profunda que a ciência. É ela que fundamenta a ciência (um ateu, dirá Descartes, não pode ser geómetro!).

4. - A Quinta meditação apresenta uma outra maneira de provar a existência de Deus. Não mais se trata de partir de mim, que tenho a ideia de Deus, mas antes da ideia de Deus que há em mim. Apreender a ideia de perfeição e afirmar a existência do ser perfeito é a mesma coisa. Pois uma perfeição não-existente não seria uma perfeição. É o argumento ontológico, o argumento de Santo Anselmo que Descartes reencontra: trata-se, ainda aqui, mais de uma intuição, de uma experiência espiritual do que de um raciocínio.

domingo, 1 de março de 2009

MÁXIMA DE KANT





ÉTICA FORMAL


Enquanto a ética de epicuro/ética de fim se preocupa com os resultados da acção humana, ou seja, o comportamento moral perante a sociedade ou o modo de conduta dentro da sociedade, a ética formal kantiana preocupa-se não com o resultado da acção ou conduta, mas sim com o motivo e a intenção da acção, com o determinante de cada proceder. Esta inversão radical na análise da conduta humana, deixando de lado o resultado, o êxito ou pragmatismo da acção, tem por expoente KANT, e geralmente se identifica com o chamado início do “pensamento moderno”.


PRINCÍPIOS DA ÉTICA FORMAL:


exigência de automomia: o acto só é moralmente valioso quando representa observância de uma norma que o sujeito deu a si mesmo. A compatibilidade externa entre a norma e a legalidade, não tem valor ético, se desprovida a conduta de respeito à exigência ética;

universalidade: para que o acto valha moralmente, ele deve ter igual valor moral para todos os homens. NÃO HÁ SUBJECTIVIDADE NA NORMA MORAL.Objectivo universalista.


“Kant, fiel à orientação cartesiana que deu início ao pensamento moderno, fixou, desde a ‘Crítica da Razão Pura’, um preciso método de pensamento. O método consistiu na busca de um conhecimento não fundado na experiência mas que, ao contrário, a antecedesse, pelo facto de desvendar os seus elementos condicionantes. Seguindo o caminho traçado por Descartes, Kant frisou que, muito embora o conhecimento se inicie pela experiência, isto é, pelo uso de nossos sentidos, ele não pode limitar-se a isso, pois os sentidos podem transmitir uma imagem deformada ou incompleta das coisas por eles apreendidas. O verdadeiro conhecimento, portanto, ultrapassa o nível empírico e deve estar fundado em faculdades racionais, independentes de toda experiência sensorial; um conhecimento que Kant denominou ‘a priori’ ou puro, enquanto que o derivado dos sentidos é necessariamente ‘a posteriori’ ou impuro”.


Segundo esta Ética, A VERDADE ESTÁ NA RAZÃO HUMANA, e não no mundo dos factos. Daí seu caráter de idealismo ou racionalismo.


FUNDAMENTOS DA ÉTICA IDEALISTA DE KANT:

a) A virtude não consiste em boas obras, ou no êxito das acções empreendidas, mas apenas no próprio querer, na própria vontade;

b) A acção praticada por dever tira o seu valor moral não da intenção do agente ao praticá-la, mas da máxima ou regra subjectiva de acção por ele seguida;

c) O dever é a necessidade de praticar uma acção por respeito à lei.


IMPERATIVO CATEGÓRICO

“O imperativo categórico é o supremo princípio da moralidade. Enquanto os imperativos hipotéticos são necessariamente condicionais – se quiseres tal resultado, deves agir de tal modo - , o imperativo categórico é incondicional e, portanto, válido em todos os tempos e em todos os lugares. Ele comanda não directamente as acções humanas, mas as máximas ou representações subjectivas do dever, as quais nascem em todas as consciências.”


O conceito de IMPERATIVO CATEGÓRICO:

“AGE SEMPRE DE TAL MODO QUE A MÁXIMA DE TUA ACÇÃO POSSA SER ELEVADA, POR SUA VONTADE, À CATEGORIA DE LEI DE UNIVERSAL OBSERVÂNCIA”


Kant e o Imperativo Categórico

Kant representou uma cisão no estudo da Ética sistematizada até então . A ética de então era tida por uma ÉTICA DE RESULTADOS, ou ÉTICA DO ÊXITO ou PRAGMÁTICA consequêncialista, porque era voltada para os resultados EXTERNOS DA CONDUTA humana.


Assim, KANT identificava, no seu sistema ético, os seguintes princípios:


BOA VONTADE: a vontade que age nos termos do dever e pela simples razão de cumprir o dever;

MÁXIMA: é o PRINCÍPIO SUBJECTIVO da acção humana, que impele o homem à prática de determinado acto;

LEI MORAL: é o PRINCÍPIO OBJECTIVO,UNIVERSALMENTE VÁLIDO PELO QUAL A PESSOA DEVE CONDUZIR-SE.

Da fusão destes conceitos, Kant extraía o IMPERATIVO CATEGÓRICO: A MÁXIMA (PRINCÍPIO SUBJECTIVO)ELEVADA À CATEGORIA DE LEI UNIVERSAL (PRINCÍPIO OBJECTIVO).

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Ética vs Moral





MORAL E ÉTICA: DOIS CONCEITOS DE UMA MESMA REALIDADE



A confusão que acontece entre as palavras Moral e Ética existem há muitos séculos. A própria etimologia destes termos gera confusão, sendo que Ética vem do grego “ethos” que significa modo de ser, e Moral tem sua origem no latim, que vem de “mores”, significando costumes.

Esta confusão pode ser resolvida com o esclarecimento dos dois temas, sendo que Moral é um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em sociedade, e estas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo quotidiano. Durkheim explicava Moral como a “ciência dos costumes”, sendo algo anterior a própria sociedade. A Moral tem portanto, um caráter obrigatório.

Já a palavra Ética, Motta (1984) define como um “conjunto de valores que orientam o comportamento do homem em relação aos outros homens na sociedade em que vive, garantindo,assim, o bem-estar social”, ou seja, Ética é a forma teórica que deve nortear o homem para o seu comportamento e para que este, vá de encontro do dever ser do indivíduo.

A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui uma consciência Moral que o leva à distinção do bem e do mal. A moral surge,quando o homem passa a fazer parte de seios institucionais,isto é, surge nas sociedades primitivas,nos primeiros contactos interpessoais humanos. A Ética teria surgido com os primeiros filósofos, pois exige maior grau de fundamentação e reflecção teórica. Ela investiga e explica as normas morais, pois leva o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas principalmente por convicção e inteligência.
Vásquez (1998) aponta que a Ética é teórica e reflexiva, enquanto a Moral é eminentemente prática.
Uma completa a outra, havendo um inter-relacionamento entre ambas, pois na acção humana, o conhecer e o agir são indissociáveis.

Em nome da amizade, deve-se guardar silêncio diante do acto de um traidor? Em situações como esta, os indivíduos deparam-se com a necessidade de organizar o seu comportamento por normas que se julgam mais apropriadas ou mais dignas de serem cumpridas.
Tais normas são aceites como obrigatórias, e desta forma, as pessoas compreendem que têm o dever de agir desta ou daquela maneira. Porém o comportamento é o resultado de normas já estabelecidas, não sendo, então, uma decisão natural, pois todo comportamento sofrerá um julgamento.
E a diferença prática entre Moral e Ética é que esta é o juiz das morais, assim Ética é uma espécie de legislação do comportamento Moral das pessoas.
Mas a função fundamental é a mesma de toda teoria: explorar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade.

A Moral, afinal, não é somente um acto individual, pois as pessoas são, por natureza, seres sociais, assim percebe-se que a Moral também é um crescimento social. E esses actos morais, quando realizados por livre participação da pessoa, são aceites como voluntários e conscientes.

Pois assim determina Vasquez (1998) ao citar Moral como um “sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livres e conscientemente, por uma convicção íntima, e não de uma maneira mecânica, externa ou impessoal”.

Enfim, Ética e Moral são os maiores valores do homem livre. Ambos significam "respeitar e venerar a vida". O homem, com seu livre arbítrio, vai formando ou destruindo o seu meio ambiente, subjuga tudo o que pode dominar,torna-se no bem ou no mal deste planeta se assim o entender, tendo sempre a sua conciência a ditar o seu caminho. Deste modo, Ética e a Moral formam uma mesma realidade.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

TEORIA DO CONHECIMENTO






INTRODUÇÃO

A necessidade de procurar explicar o mundo, dando-lhe um sentido e descobrindo-lhe as leis ocultas é tão antiga como o próprio Homem.Este,tem recorrido para isso quer ao auxílio da magia, do mito e da religião, quer, mais recentemente, à contribuição da ciência e da tecnologia. Mas é sobretudo nos últimos séculos da nossa História, que se tem dado a importância crescente aos domínios do conhecimento e da ciência. E se é certo que a preocupação com este tipo de questões remonta já à Grécia antiga, é porém a partir do séc. XVIII que a palavra ciência adquire um sentido mais preciso e mais próximo daquele que hoje lhe damos. É também sobretudo a partir desta época que as implicações da atividade científica na nossa vida quotidiana se têm tornado tão evidentes, que não lhe podemos ficar indiferentes.
O que é o conhecimento científico, como se adquire, o que temos implícito quando dizemos que conhecemos determinado assunto, em que consiste a prática científica, que relação existe entre o conhecimento científico e o mundo real, quais as conseqüências práticas e éticas das descobertas científicas, são alguns dos problemas com que nos deparamos frequentemente. Diante desses questionamentos, este resumo pretende fazer um apanhado geral acerca da Teoria do Conhecimento, as suas correntes e representantes, de modo que se torne mais fácil a sua compreensão.



CONCEITO

A teoria do conhecimento, interessa-se pela investigação da natureza, fontes e validade do conhecimento. Entre as questões principais que ela tenta responder estão as seguintes: O que é o conhecimento? Como o alcançamos? Podemos conseguir meios para defendê-lo contra o desafio céptico? Essas questões são, implicitamente, tão velhas quanto a filosofia. Mas, primordialmente na era moderna, a partir do século XVII em diante - como resultado do trabalho de Descartes (1596-1650) e Locke (1632-1704) em associação com a emergência da ciência moderna – é que ela tem ocupado um plano central na filosofia. Basicamente é conceituada como o estudo de assuntos que outras ciências não conseguem responder e se divide em quatro partes, sendo que três delas possuem correntes que tentam explica-las:

I - O conhecimento como problema, II- Origem do Conhecimento e III- Essência do Conhecimento e IV – Possibilidade do Conhecimento.



PRINCIPAIS CORRENTES E OS SEUS REPRESENTANTES


A)O Conhecimento Quanto à Origem:

A polémica racionalismo-empirismo tem sido uma das mais persistentes ao longo da história da filosofia, e encontra eco ainda hoje em diversas posições de epistemólogos ou filósofos da ciência. Abundam, ao longo da linha constituída nos seus extremos pelo racionalismo e pelo empirismo radicais, as posições intermédias, as tentativas de conciliação e de superação, como veremos a seguir.



• Empirismo

“O empirismo pode ser definido como a asserção de que todo conhecimento sintético é baseado na experiência.” (Bertrand Russell).

Conceitua-se empirismo, como a corrente de pensamento que sustenta que a experiência sensorial é a origem única ou fundamental do conhecimento.

Originário da Grécia Antiga, o empirismo foi reformulado através do tempo na Idade Média e Moderna, assumindo várias manifestações e atitudes, tornando-se notável as distinções e divergências existentes. Porém, é notório que existem características fundamentais, sem as quais se perde a essência do empirismo e a qual, todos os autores conservam, que é a tese de que todo e qualquer conhecimento sintético haure sua origem na experiência e só é válido quando verificado por factos metodicamente observados, ou se reduz a verdades já fundadas no processo de pesquisa dos dados do real, embora, a sua validade lógica possa transcender o plano dos factos observados.

Como já foi dito anteriormente, existe no empirismo divergência de pensamentos, e é exactamente esse aspecto abordado a seguir. São três, as linhas empíricas, sendo elas: a integral, a moderada e a científica.

O empirismo integral reduz todos os conhecimentos – inclusive os matemáticos – à fonte empírica, àquilo que é produto de conctato directo e imediato com a experiência. Quando a redução é feita à mera experiência sensível, temos o sensismo (ou sensualismo). É o caso de John Stuart Mill, que na obra "Sistema da Lógica" diz que todos os conhecimentos científicos resultam de processos indutivos, não constituindo excepção as verdades matemáticas, que seriam resultado de generalizações a partir de dados da experiência. Ele apresenta a indução como único método científico e afirma que nela se resolvem tanto o silogismo quanto os axiomas matemáticos.

O empirismo moderado, também denominado genético-psicológico, explica que a origem temporal dos conhecimentos parte da experiência, mas não reduz a ela a validez do conhecimento, o qual pode ser não-empiricamente válido (como nos casos dos juízos analíticos). Uma das obras baseadas nessa linha é a de John Locke "Ensaios sobre o Entendimento Humano", na qual ele explica que as sensações são o ponto de partida de tudo aquilo que se conhece. Todas as ideias são elaborações de elementos que os sentidos recebem em contacto com a realidade.

Como já foi dito, para os moderados há verdades universalmente válidas, como as matemáticas, cuja validez não assenta na experiência, e sim no pensamento. Na doutrina de Locke, existe a admissão de uma esfera de validade lógica a priori e, portanto não empírica, no que concerne aos juízos matemáticos.

Por fim, há o empirismo científico, que admite como válido, o conhecimento oriundo da experiência ou verificado experimentalmente, atribuindo aos juízos analíticos significações de ordem formal enquadradas no domínio das fórmulas lógicas. Esta tendência está longe de alcançar a almejada “unanimidade cientifica”.



• Racionalismo

É a corrente que assevera o papel preponderante da razão no processo cognoscitivo, pois, os factos não são fontes de todos os conhecimentos e não nos oferecem condições de “certeza”.

Um dos grandes representantes do racionalismo, Gottfried Leibniz, afirma na sua obra "Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano", que nem todas as verdades são verdades de fcato; ao lado delas, existem as verdades da razão, que são aquelas inerentes ao próprio pensamento humano e dotadas de universalidade e certeza (como por exemplo, os princípios de identidade e de razão suficiente), enquanto as verdades de facto são contingentes e particulares, implicando sempre a possibilidade de correcção, sendo válidas dentro de limites determinados.

Ainda retratando o pensamento racionalista, encontramos Reneé Descartes, adepto do inatismo, que afirma que somos todos possuidores, enquanto seres pensantes, de uma série de princípios evidentes, idéias natas, que servem de fundamento lógico a todos os elementos com que nos enriquecem a percepção e a representação, ou seja, para ele, o racionalismo preocupa-se com a idéia fundante de que a razão por si mesma logra atingir.

Esses dois pensadores podem ser classificados como representantes do racionalismo ontológico, que consiste em entender a realidade como racional, ou em racionalizar o real, de maneira que a explicação conceitual mais simples, se tenha em conta da mais simples e segura explicação da realidade.

Existe também uma outra linha racionalista, originada de Aristóteles, denominada intelectualismo, que reconhece a existência de “verdades de razão” e, além disso, atribui à inteligência função positiva no acto de conhecer, ou seja, a razão não contém em si mesma, verdades universais como ideias natas, mas atinge-as à vista dos factos particulares que o intelecto coordena. Concluindo: o intelecto extrai os conceitos ínsitos no real, operando sobre as imagens que o real oferece.

Hessen, um dos adeptos do intelectualismo, lembra que há nele uma concepção metafísica da realidade como condição da sua gnosiologia, que é conceber a realidade como algo de racional, contendo no particularismo contingente dos seus elementos, as verdades universais que o intelecto “lê” e “extrai”, realizando-se uma adequação plena entre o entendimento e a realidade, no que esta tem de essencial.

Por fim, devemos citar uma ramificação do racionalismo que alguns autores consideram autónoma, que é o Criticismo.

O criticismo é o estudo metódico prévio do acto de conhecer e dos modos de conhecimento, ou seja, uma disposição metódica do espírito no sentido de situar, preliminarmente o problema do conhecimento em função da relação “sujeito-obcjeto”, indagando as suas condições e pressupostos. Ele aceita e recusa certas afirmações do empirismo e racionalismo, por isso, muitos autores acreditam na sua autonomia. Entretanto, devemos entender tal posição como uma análise crítica e profunda dos pressupostos do conhecimento.

O seu maior representante, Immanuel Kant, tem como marca a determinação a priori das condições lógicas das ciências. Ele declara que o conhecimento não pode prescindir da experiência, a qual fornece o material cognoscível e nesse ponto coincide com o empirismo. Porém, sustenta também que o conhecimento de base empírica não pode prescindir de elementos racionais, tanto que só adquire validade universal quando os dados sensoriais são ordenados pela razão. Segundo palavras do próprio autor, “os conceitos sem as intuições são vazios; as intuições sem os conceitos são cegas”.

Para ele, o conhecimento é sempre uma subordinação do real à medida do humano.

Conclui-se então, que pela óptica do criticismo, o conhecimento implica sempre numa contribuição positiva e construtora por parte do sujeito cognoscente em razão de algo que está no espírito, anteriormente à experiência do ponto de vista gnosiológico.



B)O Conhecimento Quanto à Essência:

Nesta parte do estudo, analisaremos o ponto da Teoria do Conhecimento em que há mais divergências, sendo estas fundamentais pra o pleno conhecimento do assunto, que é o realismo e o idealismo.



• Realismo

Sabendo que a palavra realismo vem do latim res (coisa), podemos conceituar essa corrente como a orientação ou atitude espiritual que implica uma preeminência do objeto, dada a sua afirmação fundamental de que nós conhecemos coisas. Noutras palavras, é a independência ontológica da realidade, ou seja, o sujeito em função do objeto.

O realismo é subdividido em três espécies. O realismo ingénuo, o tradicional e o crítico.

O realismo ingénuo, também conhecido como pré-filosófico, é aquele em que o homem aceita a identidade do seu conhecimento com as coisas que a sua mente menciona, sem formular qualquer questionamento a respeito de tal coisa. É a atitude do homem comum, que conhece as coisas e as concebem tais e quais aparecem.

Já o realismo tradicional é aquele em que há uma indagação a respeito dos fundamentos,mas há uma procura em demonstrar se as teses são verdadeiras, surgindo uma atitude propriamente filosófica, seguindo a linha aristotélica.

Por último, podemos citar o realismo científico, que é a linha do realismo que acentua a verificação dos seus pressupostos concluindo pela funcionalidade sujeito-objecto e distinguindo as camadas conhecíveis do real como a participação - não apenas criadora - do espírito no processo gnosiológico. Para os seguidores desse pensamento, conhecer é sempre conhecer algo posto fora de nós, mas que, se há conhecimento de algo, não nos é possível verificar se o objecto - que nossa subjectividade compreende - corresponde ou não ao objecto tal e qual é em si mesmo.

Há portanto, no realismo, uma tese ou doutrina fundamental de que existe uma correlação ou uma adequação da inteligência a “algo” como objecto do conhecimento, de maneira que nós, conhecemos quando a nossa sensibilidade e inteligência se conformam a algo de exterior a nós. De acordo com o modo de compreender-se essa “referibilidade a algo”, bifurca-se o realismo em tradicional e o crítico, que são as duas linhas pertinentes à filosofia.



• Idealismo

Surgiu na Grécia Antiga com Platão, denominado de idealismo transcendente, onde as ideias ou arquétipos ideais representam a realidade verdadeira, da qual seriam as realidades sensíveis, meras cópias imperfeitas, sem validade em si mesmas, mas sim enquanto participam do ser essencial. O idealismo de Platão reduz o real ao ideal, resolvendo o ser em ideia, pois como ele já dizia, as ideias são o sol que ilumina e torna visíveis as coisas.

Alguns autores entendem que a doutrina platónica poderia ser vista como uma forma de realismo, pois para eles, o idealismo “verdadeiro” é aquele desenvolvido a partir de Descartes.

O que interessa à Teoria do Conhecimento, é o idealismo imanentista, que afirma que as coisas não existem por si mesmas, mas na medida e enquanto são representadas ou pensadas, de maneira que só se conhece aquilo que se insere no domínio do nosso espírito e não as coisas como tais, ou seja, há uma tendência a subordinar tudo às formas espirituais ou esquemas. No idealismo, que é a compreensão do real como idealidade (o que equivale dizer a realidade como espírito), o homem cria um objecto com os elementos da sua subjectividade, sem que algo preexista ao objecto (no sentindo gnosiológico).

Sintetizando, o idealismo é a doutrina ou corrente de pensamento que subordina ou reduz o conhecimento à representação ou ao processo do pensamento mesmo, por entender que a verdade das coisas está menos nelas do que em nós, em nossa consciência ou na nossa mente, no facto de serem “percebidas” ou “pensadas”.

Dentro dessa concepção existem duas orientações idealistas. Uma é a do idealismo psicológico ou conscienciológico, onde o que se conhece não são as coisas e sim a imagem delas. Podemos conceituá-lo como aquele em que a realidade é cognoscível se e enquanto se projecta no plano da consciência, revelando-se como momento ou conteúdo da nossa vida interior. Também chamado de idealismo subjectivo, este diz que o homem não conhece as coisas, e sim a representação que a nossa consciência forma em razão delas. Os seus mentores são Hume, Locke e Berkeley.

A outra é a orientação idealista de natureza lógica, que parte da afirmação de que só conhecemos o que se converte em pensamento, ou é conteúdo de pensamento. Ou seja, o ser não é outra coisa senão ideia.

O seu maior representante, Hegel, diz em uma de suas obras que nós só conhecemos aquilo que elevamos ao plano do pensamento, de maneira que só há realidade como realidade espiritual.

Resumindo: na atitude psicológica, ser é ser percebido e na atitude lógica, ser é ser pensado.



C)Possibilidade do Conhecimento:

Esta parte da teoria do conhecimento é responsável por solucionar a seguinte questão: qual a possibilidade do conhecimento?

Para que seja possível respondê-la, muitos autores recorrem a duas importantes posições: o dogmatismo e o ceticismo, os quais veremos abaixo.



• Dogmatismo

É a corrente que se julga em condições de afirmar a possibilidade de conhecer verdades universais quanto ao ser, à existência e à conduta, transcendendo o campo das puras relações fenomenais e sem limites impostos a priori à razão.

Existem duas espécies de dogmatismo: o total e o parcial.

O primeiro é aquele em que a afirmação da possibilidade de se alcançar a verdade última é feita tanto no plano da especulação, quanto no da vida prática ou da Ética. Este dogmatismo intransigente, quase não é adoptado, devido à rigorosidade de adequação do pensamento. Porém, encontramos em Hegel a expressão máxima desse tipo de dogmatismo, pois, existe nas suas obras uma identificação absoluta entre pensamento e a realidade. Como o próprio autor diz “o pensamento, na medida em que é, é a coisa em si, e a coisa em si, na medida em que é, é o pensamento puro”.

Já o parcial, adoptado em maior extensão, tem um sentido mais atenuado, na intenção de afirmar-se a possibilidade de se atingir o absoluto em dadas circunstâncias e modos quando não sob certo prisma. Ou seja, é a crença no poder da razão ou da intuição como instrumentos de acesso ao real em si.

Alguns dogmáticos parciais julgam-se aptos para afirmar a verdade absoluta no plano da acção. Entretanto, outros somente admitem tais verdades no plano especulativo. Daí origina-se a distinção entre dogmatismo teórico e dogmatismo ético.

O dogmatismo ético tem como adeptos Hume e Kant, que duvidavam da possibilidade de atingir as verdades últimas enquanto sujeito pensante (homo theoreticus) e afirmavam as razões primordiais de agir, estabelecendo as bases da sua Ética ou da sua Moral.

Por conseguinte, temos como adepto do dogmatismo teórico, Blaise Pascal, que não duvidava dos seus cálculos matemáticos e da exactidão das ciências enquanto ciências, mas era assaltado por dúvidas no plano do agir ou da conduta humana.



• Cepticismo

Consiste numa atitude dubitativa ou uma provisoriedade constante, mesmo a respeito de opiniões emitidas no âmbito das relações empíricas. Essa atitude nunca é abandonada pelo cepticismo, mesmo quando são enunciados juízos sobre algo de maneira provisória, sujeitos a refutação à luz de sucessivos testes.

Ou seja, o cepticismo distingue-se das outras correntes por causa da sua posição de reserva e de desconfiança em relação às coisas.

Há no cepticismo – assim como no dogmatismo – uma distinção entre absoluto e parcial, ressaltando que este último não será discutido neste artigo.

O cepticismo absoluto é oriundo da Grécia e também denominado pirronismo. Prega a necessidade da suspensão do juízo, dada a impossibilidade de qualquer conhecimento certo. Ele envolve tanto as verdades metafísicas (da realidade em si mesma), quanto as relativas ao fundo dos fenómenos. Segundo essa corrente, o homem não pode pretender nenhum conhecimento por não haver adequação possível entre o sujeito cognoscente e o objecto conhecido. Ou seja, para os cépticos absolutos, não há outra solução para o homem senão a atitude de não formular problemas, dada a equivalência fatal de todas as respostas.

Um dos representantes do cepticismo de maior destaque na filosofia moderna é Augusto Comte.

boa leitura!!

ACTO DE CONHECER

Descrição fenomenológica.

Les Principes d'une Métaphysique de la Connaissance. Paris: Ed. Montaigne, 1945, t. l, pp. 87-88

Em todo o conhecimento, um "cognoscente" e um "conhecido", um sujeito e um objecto encontram-se face a face. A relação que existe entre os dois é o próprio conhecimento. A oposição dos dois termos não pode ser suprimida; esta oposição significa que os dois termos são originariamente separados um do outro, transcendentes um ao outro.

Os dois termos da relação não podem ser separados dela sem deixar de ser sujeito e objecto. O sujeito só é sujeito em relação a um objecto e o objecto só é objecto em relação a um sujeito. Cada um deles é o que é em relação ao outro. Estão ligados um ao outro por uma estreita relação; condicionam-se reciprocamente. A sua relação é uma correlação.

A relação constitutiva do conhecimento é dupla, mas não é reversível. O facto de desempenhar o papel de sujeito em relação a um objecto é diferente do facto de desempenhar o papel de objecto em relação a um sujeito. No interior da correlação, sujeito e objecto não são, portanto, permutáveis, a sua função é na sua essência diferente. (...)

A função do sujeito consiste em apreender o objecto; a do objecto em poder ser apreendido pelo sujeito e em sê-lo efectivamente.

Considerada do lado do sujeito, esta apreensão pode ser descrita como uma saída do sujeito para fora da sua própria esfera e como uma incursão na esfera do objecto, a qual é, para o sujeito, transcendente e heterogénea. O sujeito apreende as determinações do objecto e, ao aprendê-las, introdu-las, fá-las entrar na sua própria esfera.

O sujeito não pode captar as propriedades do objecto senão fora de si mesmo, pois a oposição do sujeito e do objecto não desaparece na união que o acto do conhecimento estabelece entre eles; permanece indestrutível. A consciência dessa oposição é um aspecto essencial da consciência do objecto. O objecto, mesmo quando é apreendido, permanece para o sujeito algo exterior; é sempre o objectum, quer dizer, o que está diante dele. O sujeito não pode captar o objecto sem sair de si (sem se transcender); mas não pode ter consciência do que é apreendido, sem entrar em si, sem se reencontrar na sua própria esfera. O conhecimento realiza-se, por assim dizer, em três tempos: o sujeito sai de si, está fora de si e regressa finalmente a si.

O facto de que o sujeito saia de si para apreender o objecto não muda nada neste. O objecto não se torna por isso imanente. As características do objecto, se bem que sejam apreendidas e como que introduzidas na esfera do sujeito, não são, contudo, deslocadas. Apreender o objecto não significa fazê-lo entrar no sujeito, mas sim reproduzir neste as determinações do objecto numa construção que terá um conteúdo idêntico ao do objecto. Esta construção operada no conhecimento é a "imagem" do objecto. O objecto não é modificado pelo sujeito, mas sim o sujeito pelo objecto. Apenas no sujeito alguma coisa se transformou pelo acto do conhecimento. No objecto nada de novo foi criado; mas no sujeito nasce a consciência do objecto com o seu conteúdo, a imagem do objecto

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O problema de Gettier por John L. Pollock



É raro em filosofia chegar a consenso acerca de qualquer questão substantiva, mas durante algum tempo existiu um consenso quase completo sobre o que se designa "análise tradicional do conhecimento como crença verdadeira justificada". De acordo com essa análise:

S sabe que p se e só se:

1) p é verdadeira,
2) S acredita que p; e
3) S está justificado em acreditar que p.
No período imediato que antecedeu a publicação do famoso artigo de Gettier (1963) "É o Conhecimento Crença Verdadeira Justificada?", esta análise era defendida por virtualmente todos os epistemológos. Mas Gettier publicou o seu artigo e alterou, praticamente sozinho, o curso da epistemologia. Conseguiu isso apresentando dois contra-exemplos claros e inegáveis à análise da crença verdadeira justificada. Resumindo o exemplo do Capítulo 1, considere-se Smith que acredita falsamente mas com boas razões que Jones tem um Ford. Smith não faz ideia do paradeiro de Brown, mas escolhe arbitrariamente Barcelona e, do facto putativo de que Jones tem um Ford, infere que Jones tem um Ford ou Brown está em Barcelona. Acontece que por acaso Brown está em Barcelona, pelo que esta disjunção é verdadeira. Além do mais, tal como Smith tem boas razões para acreditar que Jones é dono de um Ford, está justificado em acreditar nesta disjunção. Mas já que os dados de que dispõe não pertencem à proposição verdadeira da disjunção, não podemos dizer que Smith sabe que Jones é dono de um Ford ou Brown está em Barcelona.

Ao ensaio de Gettier seguiu-se uma avalanche de artigos que procuravam responder aos contra-exemplos adicionando uma quarta condição à análise tradicional do conhecimento. A primeira tentativa para resolver o problema de Gettier virou-se para a consideração de que, nos exemplos de Gettier, o agente epistémico alcança uma crença verdadeira justificada raciocinando a partir de uma crença falsa. Isso sugeriu a adição de uma quarta condição parecida com o seguinte:

As razões para S acreditar p não podem incluir qualquer crença falsa.
Contudo, rapidamente se percebeu que se podia construir outros contra-exemplos em que não havia conhecimento apesar de o agente epistémico não o inferir de crenças falsas. Alvin Goldman (1976) construiu o seguinte exemplo: suponha que está a viajar pelo campo e que vê o que pensa ser um estábulo; vê isso de forma clara a curta distância, e tem o aspecto que deve ter um estábulo, e assim sucessivamente; além disso, é um estábulo. Tem então a crença verdadeira justificada de que é um estábulo. Mas as pessoas desse local, para parecerem mais ricas do que realmente são, construíram fachadas de estábulos bem realistas que não se podem distinguir facilmente do que realmente são quando vistas da auto-estrada. Há mais fachadas de estábulos do que estábulos reais. Nestas circunstâncias, não é possível concordar que, apesar de ter uma crença verdadeira justificada, sabe que o que está a ver é um estábulo. Além disso, a crença de que está a ver um estábulo não foi, de forma alguma, inferida da crença na ausência de fachadas de estábulos. Provavelmente, a possibilidade de existirem fachadas de estábulos é algo que nunca lhe ocorreu, e muito menos algo que desempenhou qualquer papel no seu raciocínio.

Podemos construir um exemplo perceptivo ainda mais simples. Suponha que S vê uma bola que lhe parece encarnada, com base no facto de ajuizar correctamente que é encarnada. Mas sem o conhecimento de S, a bola está iluminada por luzes encarnadas e pareceria encarnada mesmo que o não fosse. Então S não sabe que a bola é encarnada, apesar de ter uma crença verdadeira justificada para esse efeito. Além disso, a sua razão para acreditar que a bola é encarnada não envolve a sua crença de que a bola não está a ser iluminada por luzes encarnadas. A iluminação por luzes encarnadas está relacionada com o seu raciocínio apenas porque o derrota, e não porque é um passo do raciocínio. Estes exemplos, e outros relacionados, indicam que a crença verdadeira justificada falha como conhecimento por causa do valor de verdade das proposições não desempenhar um papel directo no raciocínio que subjaz a essa crença. Esta observação conduziu a um número de análises "anulabilistas" do conhecimento. A mais simples consistirá em adicionar uma quarta condição requerida desde que não surjam verdadeiras condições de anulabilidade. Pode ser alcançada da forma seguinte:

Não há uma proposição verdadeira Q tal que se Q fosse adicionada às crenças de S, este não estaria justificado em acreditar p.
Mas Keither Leher e Thomas Paxson (1969) apresentaram o seguinte contra-exemplo a esta proposta simples:

Suponha que vejo um homem numa biblioteca a roubar um livro e a escondê-lo debaixo do casaco. Uma vez que tenho a certeza de que esse homem é Tom Grabit, pois vi-o muitas vezes quando assistia às minhas aulas, afirmo que foi Tom Grabit que roubou o livro. Contudo, suponha também que a Sra. Grabit, mãe de Tom, afirmou que, no dia em questão, Tom não estava na biblioteca, que estava mesmo a centenas de milhar de quilómetros de distância, e que quem estava na biblioteca era John Grabit, o irmão gémeo de Tom. Além disso, imagine que desconheço em absoluto o que disse a Sra. Grabit e que, considerando a presente definição de anulabilidade, o conteúdo da sua declaração anula qualquer justificação que eu possa ter para acreditar que Tom Grabit roubou o livro [...]

O que se disse antes pode ser aceite até acabarmos a história e ficarmos a saber que a Sra. Grabit é uma mentirosa compulsiva e patológica, que Tom Grabit é uma ficção da sua mente doente, e que, tal como eu acreditava, Tom Grabit roubou o livro. Quando se acrescenta isto, deve ser óbvio que eu sabia que Tom Grabit roubou o livro. (p. 228)
Uma proposta natural para lidar com o exemplo de Grabit é que, além de haver uma verdadeira condição de anulabilidade, há um anulador da condição de anulabilidade, o que restaura o conhecimento. Por exemplo, no exemplo de Grabit é verdade que a Sra. Grabit declarou não ser o Tom que estava na livraria, mas o seu irmão gémeo John (uma condição de anulabilidade), mas também é verdade que a Sra. Grabit é uma mentirosa compulsiva e patológica e que John Grabit é uma ficção da sua mente demente (um anulador da condição de anulabilidade). Contudo, é difícil construir um princípio preciso para lidar correctamente com estes exemplos apelando a verdadeiras condições de anulabilidade e verdadeiros anuladores da condição de anulabilidade. Corrigir a proposta anterior da seguinte maneira não funciona:

Se há uma proposição verdadeira Q tal que se Q fosse adicionada às crenças de S, este já não estaria justificado em acreditar p, então também há uma proposição verdadeira R tal que se Q e R fossem ambas adicionadas às crenças de S, este estaria justificado em acreditar p.
As dificuldades mais simples apresentadas a esta proposta é que ao adicionar R podemos acrescentar novas razões para acreditar p em vez de restaurar as razões antigas. Não é trivial ver como formular uma quarta condição que incorpore anuladores de condições de anulabilidade. Penso que essa quarta condição fornecerá, em última análise, a solução para o problema de Gettier, mas nenhum tipo de solução deste tipo foi ainda explorado considerado na bibliografia.

John L. Pollock
Tradução e adaptação de Vítor João Oliveira
Excerto de "The Gettier Problem" (1986), retirado de Epistemology: Selected Texts With Interactive Commentary, org. por Sven Bernecker (Oxford: Blackwell, 2006, pp. 8-10)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Os valores

O homem vive, toma partido, crê numa multiplicidade de valores, hierarquiza-os e dá assim sentido à sua existência mediante opções que ultrapassam incessantemente as fronteiras do seu conhecimento efectivo. No homem que pensa, esta questão só pode ser raciocinada, no sentido em que, para fazer a síntese entre aquilo que ele crê e aquilo que ele sabe, ele só pode utilizar uma reflexão, quer prolongando o saber, quer opondo-se a ele num esforço crítico para determinar as suas fronteiras actuais e legitimar a hierarquização dos valores que o ultrapassam. Esta síntese raciocinada entre as crenças, quaisquer que elas sejam, e as condições do saber, constituí aquilo que nós chamamos uma "sabedoria" e é este que nos parece ser o objecto da filosofia.

Jean Piaget, Sageza e Ilusão da Filosofia



Síntese

Valores



1. Quando decidimos fazer algo, estamos a realizar uma escolha. Manifestamos certas preferências por umas coisas em vez de outras. Evocamos então certos motivos para justificar as nossas decisões.

2. Factos e valores

Todos estes motivos podem ser apoiados em factos, mas têm sempre implícitos certos valores que justificam ou legitimam as nossas preferências.

Exemplo: O dia 18 de Fevereiro de 2001 foi o dia mais importante da semana, era um domingo.

Facto: O dia 18 de Fevereiro de 2001 foi efectivamente um domingo.

Valor implícito: O domingo como o dia mais importante entre os dias da semana


3.Facto

Um facto é algo que algo que pode ser comprovado, sobre o qual podemos dizer que a afirmação é verdadeira ou falsa. Os factos são igualmente susceptíveis de gerarem consensos universais.

4. Valor

Podemos definir os valorespartindo das várias dimensões em que usamos:

a) os valores são critérios segundo os quais valoramos ou desvaloramos as coisas;

b) Os valores são as razões que justificam ou motivam as nossas acções, tornando-as preferíveis a outras.

Os valores reportam-se, em geral, sempre a acções, justificam-nas.

Exemplo: Participar numa manifestação a favor do povo timorense,pode significar que atribuímos à Solidariedade uma enorme importância. A solidariedade é neste caso o valor que justifica ou explica a nossa acção.

Ao contrário dos factos, os valores apenas implicam a adesão de grupos restritos. Nem todos possuímos os mesmos valores, nem valorizamos as coisas da mesma forma.

5.Tipos de valores

Os valores não são coisas nem simples ideias que adquirimos, mas conceitos que traduzem as nossas preferências. Existe uma enorme diversidade de valores, podemos agrupá-los quanto à sua natureza da seguinte forma:

Valores éticos: os que se referem às normas ou critérios de conduta que afectam todas as áreas da nossa actividade. Exemplos: Solidariedade, Honestidade, Verdade, Lealdade, Bondade, Altruísmo...

Valores estéticos: os valores de expressão. Exemplo: Harmonia, Belo, Feio, Sublime, Trágico.

Valores religiosos: os que dizem respeito à relação do homem com a transcendência. Exemplos: Sagrado, Pureza, Santidade, Perfeição.

Valores políticos: Justiça, Igualdade, Imparcialidade, Cidadania, Liberdade.

Valores vitais: vida,Saúde, Força.

6.Hierarquização dos Valores

Não atribuímos a todos os nossos valores a mesma importância. Na hora de tomar uma decisão, cada um de nós, hierarquiza os valores de forma muito diversa. A hierarquização é a propriedade que tem os valores de se subordinarem uns aos outros, isto é, de serem uns mais valiosos que outros. As razões porque o fazemos são múltiplas.

Exemplo:

A maioria da população mundial continua a passar graves carências alimentares. Todos os anos morrem milhões de pessoas por subnutrição. Não é de querer que hierarquia dos seus valores destas pessoas a satisfação das suas necessidades biológicas não esteja logo em primeiro lugar.

7.Polaridade dos Valores

Os nossos valores tendem a organizar-se em termos de oposições ou polaridades. Preferimos e opomos a Verdade à Mentira, a Justiça à Injustiça, o Bem ao Mal, a beleza à fealdade, a genorosidade à mesquinhês. A palavra valor costuma apenas ser aplicada num sentido positivo. Embora o valor seja tudo aquilo sobre o qual recaia o acto de estima positiva ou negativamente. Valor é tanto o Bem, como o Mal, o Justo como Injusto..

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Tipos de argumentos


1. Tipos de Argumentos

A classificação dos discursos argumentativos varia bastante conforme os autores. Vamos centrar a nossa atenção em apenas quatro tipos:

- Dedutivos

- Indutivos

- Analógicos

- Falaciosos

Argumentos dedutivos (tipo silogísticos). Nestes argumentos a verdade das premissas assegura a verdade da conclusão. Se as premissas forem verdadeiras, e o seu encadeamento adequado, a conclusão será necessariamente verdadeira. Os argumentos dedutivos não acrescentam nada de novo ao que sabemos.

Exemplo:

Todos os homens são mortais. João é homem. Logo, João é mortal.

Argumentos indutivos. Neste caso, a conclusão ultrapassa o conteúdo das premissas. Embora estas possam ser verdadeiras, a conclusão é apenas provável .

Exemplo:

Todos banhistas observados até hoje estavam queimados pelo sol. Logo, o próximo banhista que for observado estará queimado pelo sol. (argumento indutivo - generalização, previsão)

Argumento por Analogia. Neste tipo de argumentos parte-se da semelhança entre duas coisas, para se concluir que a propriedade de uma é a mesma que podemos encontrar na outra. As diferenças especificas são ignoradas.

Exemplo:

Marte é um astro como a Terra. A Terra é habitada. Logo, Marte é também habitado.

.

2. Falácias Informais

Distinção entre falácias formais e Informais:

a) as falácias formais são constituídas por raciocínios inválidos de natureza dedutiva.

b) as falácias informais compreendem os restantes tipos.

Falácias cujas premissas, sob o ponto de vista lógico, não são relevantes para a conclusão. O importante é o seu impacto psicológico:

Apelo à Piedade ( Argumentum ad Misericordiam). Faz-se apelo à misericórdia do auditório de forma a que a conclusão seja aceite.

Exemplo: Sr. Juiz não me prenda, porque se o fizer os meus filhos ficam desamparados.

Apelo à Ignorância (Argumentum ad Ignorantiam). Utiliza-se uma premissa baseada na insuficiência de evidências para sustentar ou negar uma dada conclusão.

Exemplo:

1. Ninguém provou que Deus existe. Logo, Deus não existe.

2. Ninguém provou que Deus existe. Logo, Deus não existe.

Apelo à Força ( Argumentum ad Baculum). Pressão psicológica sobre o auditório.

Exemplo: As minhas ideias são verdadeiras, quem não as seguir será castigado.

Apelo à Autoridade ( Argumentum ad Verecundiam). Faz apelo à autoridade e prestígio de alguém para sustentar uma dada conclusão.

Exemplo: Einstein, o maior génio de todos o tempos, gostava batatas fritas. Logo, as batatas fritas são o melhor alimento do mundo.

Contra a Pessoa ( Argumentum ad Hominem). Coloca-se em causa a credibilidade do oponente, de forma a desvalorizar a importância do seus argumentos.



Sofismas lógicos:

Petição de Princípio (Petitio Principi). Pretende-se provar uma conclusão, partindo de uma premissa que é a própria conclusão.

Exemplo: Toda a gente sabe que as autarquias são corruptas. Por isso não faz sentido provar o contrário.

Falsa Causa (Post hoc ). A conclusão é extraída de uma sucessão de acontecimentos.

Exemplo: O dinheiro desapareceu do cofre depois do João ter saído da loja. Logo....



Falso Dilema. Apenas são apresentadas duas alternativas, sendo omitidas todas as outras.

Exemplo: Quem não está por mim, está contra mim.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Lógica Informal




Que tipos de argumentos há?

Os argumentos de que tenho falado até aqui são também conhecidos como argumentos dedutivos.
O melhor que se pode dizer dos argumentos dedutivos é que se trata daquele tipo de argumentos cuja forma garante a verdade da conclusão, no caso de as premissas serem também verdadeiras.
A sua forma lógica é, portanto, decisiva. O mesmo não se pode dizer de outros tipos de argumentos, residindo aí a diferença entre lógica formal e lógica informal. Para além dos argumentos dedutivos temos então os argumentos:

Por analogia
Indutivos (generalizações a partir de exemplos)
Sobre causas
De autoridade

Juntamente com os argumentos dedutivos, os argumentos por analogia são os mais utilizados pelos filósofos. Os argumentos por analogia costumam apresentar a seguinte forma:

Os x têm as propriedades A, B, C, D.
Os y, tal como os x, têm as propriedades A, B, C, D.
Os x têm ainda a propriedade E.
Logo, os y têm também a propriedade E.

Podemos resumir e dizer:

Os x, como os y, têm as propriedades A, B, C, D.
Os x têm ainda a propriedade E.
Logo, os y têm a propriedade E.

Resumindo ainda mais:

Os x são E.
Os y são como os x.
Logo, os y são E.

Os argumentos por analogia partem da ideia de que se diferentes coisas são semelhantes em determinados aspectos, também o serão noutros.

Veja-se o exemplo seguinte:

Os soldados de um batalhão têm de obedecer às decisões de um comandante para atingir os seus objectivos.
Uma equipa de futebol é como um batalhão.
Logo, os jogadores de uma equipa de futebol têm de obedecer às decisões de um comandante (treinador) para atingir os seus objectivos.

O termo «como» na segunda premissa está destacado. Esse termo indica que estamos a estabelecer uma comparação entre situações análogas, característica dos argumentos por analogia. Mas será que apenas pela forma do argumento ficamos a saber se é aceitável ou não? Para tornar clara a resposta a esta pergunta, compare-se o argumento anterior com o seguinte:

Os soldados de um batalhão andam armados quando treinam.
Uma equipa de futebol é como um batalhão.
Logo, os jogadores de futebol andam armados quando treinam.

A primeira coisa que se torna evidente é que, ainda que o primeiro argumento possa ser aceitável, este último não o é com toda a certeza. Acontece, porém, que ambos exibem exactamente a mesma forma. Concluímos, assim, que a mera inspecção da sua forma não nos permite classificar os argumentos por analogia como bons ou maus.

Portanto, a qualidade destes argumentos não depende da sua forma lógica.

Encontramos com a mesma forma bons e maus argumentos por analogia.
Por isso é que tais argumentos não fazem parte da lógica formal.
Por isso também não dizemos que um argumento por analogia é válido ou inválido, coisa que só se aplica aos argumentos dedutivos.

Recordo a definição de validade, segundo a qual é logicamente impossível obter conclusões falsas de premissas verdadeiras, o que não acontece nos argumentos por analogia.

Nos argumentos por analogia nunca podemos garantir logicamente que de premissas verdadeiras se obtêm sempre conclusões verdadeiras.

Isto é, os argumentos por analogia não possuem a característica de preservar logicamente a verdade. Assim, não temos outro remédio senão olhar para aquilo que as premissas e a conclusão afirmam, de pouco servindo a análise do seu aspecto formal.

Repare-se no seguinte argumento:

Os bombeiros dividem-se em batalhões, obedecem a uma hierarquia e têm um quartel, como os polícias.
Os polícias usam farda.
Logo, os bombeiros usam farda.

Vimos que um argumento por analogia não é válido ou inválido, mas que nem todos os argumentos por analogia são maus.
Costuma-se dizer que os argumentos por analogia são fortes ou fracos. Como distinguimos uns dos outros? O argumento anterior é constituído por premissas e conclusão verdadeiras.
Aparentemente é um argumento forte por analogia.

Mas veja-se agora um outro argumento por analogia (com a mesma forma do anterior, claro) com premissas também verdadeiras, mas cuja conclusão é manifestamente falsa:

Os bombeiros dividem-se em batalhões, obedecem a uma hierarquia, têm um quartel e usam farda, tal como os polícias.
Os polícias usam arma.
Logo, os bombeiros usam arma.

Este argumento é, sem dúvida, fraco. Até porque a conclusão é falsa.
Ao avaliar um argumento por analogia no sentido de saber se é forte ou fraco, temos de estar atentos a três critérios, os quais se manifestam nas seguintes perguntas:
As semelhanças apontadas nos casos que estão a ser comparados são relevantes para a conclusão que se quer inferir?

A comparação tem por base um número razoável de semelhanças?
Apesar das semelhanças apontadas, não haverá diferenças fundamentais entre os casos que estão a ser comparados?
Aplicando os critérios patentes nas perguntas anteriores, podemos verificar se uma analogia é forte ou fraca.
No caso do argumento anterior, por exemplo, verificamos que falha os critérios 1e3.

As semelhanças entre os bombeiros e os polícias são muitas, mas não são relevantes para a conclusão que se quer tirar.
Nenhuma delas está sequer relacionada com o uso de arma, falhando assim o critério 1.

Mas também falha o critério 3 porque existe uma diferença fundamental entre os bombeiros e os polícias.
Estes fazem parte de uma força da ordem, necessitando por isso dos meios para a restabelecerem quando é perturbada; aqueles são membros de uma força de paz, não necessitando de quaisquer meios de coacção.

A seguinte analogia também é claramente fraca:

Os franceses, como os ingleses, têm vários filósofos famosos.
Os franceses estudam filosofia no ensino secundário.
Logo, os ingleses estudam filosofia no secundário.

É discutível se a semelhança referida é ou não relevante para a conclusão, mas não há qualquer dúvida que o critério (ii) não é satisfeito. Não podemos inferir seja o que for sobre o ensino da filosofia em Inglaterra baseados apenas numa semelhança com o caso francês.

Um famoso argumento por analogia a favor da existência de Deus é o seguinte:

Todas as máquinas têm um criador que as põe a funcionar de forma precisa, regular e inteligível.
O mundo é como uma máquina.
Logo, o mudo tem um criador.

Será um argumento forte? Não é difícil admitir que as semelhanças são relevantes para a conclusão, passando satisfatoriamente o critério 1.
Também não é difícil admitir que as semelhanças entre as máquinas e a natureza são numerosas, passando também no critério 2.

E quanto ao critério 3? Será que há diferenças fundamentais?

Parece-me que há uma diferença que não pode ser desprezada: enquanto as máquinas não se modificam nem evoluem com o tempo, a não ser pela intervenção de alguém, os seres naturais modificam-se e aperfeiçoam-se constantemente por si próprios.

Esta diferença é determinante para pôr em causa a necessidade de um criador para a natureza. O argumento falha, portanto, o critério 3.
Por isso é um argumento fraco.

Se os argumentos dedutivos e por analogia são muito utilizados na filosofia, o mesmo já não acontece com os argumentos a partir de exemplos — mais conhecidos como «argumentos indutivos» ou «generalizações».

Contudo, são os argumentos mais utilizados fora da filosofia. Grande parte das opiniões das pessoas resulta de processos indutivos de raciocínio.

É o que se verifica em afirmações comuns como «os alentejanos são preguiçosos», «os alemães são racistas», «todos os seres humanos morrem», «o Sol vai nascer amanhã», «as mulheres são mais sensíveis do que os homens», etc.

A forma dos argumentos indutivos é a seguinte:
Alguns A são B.
Logo, todos os A são B.

Neste caso a premissa é apenas o resumo de um conjunto mais ou menos extenso de casos particulares. Mas por muito extenso que seja o número de exemplos de que se parte num argumento indutivo, nunca temos a garantia lógica de que a conclusão seja verdadeira.

Também aqui corremos o risco de encontrar premissas verdadeiras e conclusão falsa.

Portanto, os argumentos indutivos, como já acontecia com os analógicos, não são válidos ou inválidos.

Veja-se o seguinte exemplo:

Os cisnes observados até agora são brancos.
Logo, todos os cisnes são brancos.

Note-se que a premissa, ao referir todos «os cisnes observados até agora», está a referir apenas alguns cisnes e não todos os que existem.

Apesar disso, dificilmente diremos que não constitui uma boa razão para concluir que todos os cisnes são brancos.

De facto, durante muito tempo se pensou que todos os cisnes eram brancos até ao dia em que se descobriu um lugar até então desconhecido (a Austrália) em que os cisnes são pretos.

Bastava, aliás, que um só cisne fosse de outra cor para tornar falsa a conclusão anterior.

Mas será que alguém considera fraco o argumento seguinte?
Até agora todas as esmeraldas encontradas são verdes.
Logo, todas as esmeraldas são verdes.

É claro que este é um bom argumento. Não é logicamente impossível que a conclusão seja falsa. Mas é improvável.

Assim, uma indução é forte se, e só se, for improvável, mas não logicamente impossível, que a sua conclusão seja falsa.

Caso contrário a indução é fraca. Tudo depende, como é óbvio, da força com que as premissas apoiam a conclusão.

Os argumentos indutivos não são, de resto, invulgares nas ciências empíricas. Algumas das descobertas científicas são o resultado de generalizações fortemente apoiadas em observações e experiências realizadas.
O que não significa que essas generalizações não tenham de ser constantemente testadas pelos próprios cientistas.
Uma vez que sabem que não é logicamente impossível que as suas conclusões sejam falsas, ainda que apoiadas em numerosas observações, os cientistas procuram testá-las procurando os contra-exemplos que as podem tornar falsas.

No caso dos cisnes o contra-exemplo acabou por aparecer, mas isso não significa que todos os argumentos indutivos sejam maus. Tudo o que devemos evitar é fazer generalizações apressadas sem procurar avaliar se as premissas que sustentam as nossas conclusões são suficientemente fortes para isso.

Também frequentes nas ciências empíricas são os argumentos sobre causas. Neste tipo de argumentos o que se faz é procurar conexões entre fenómenos de modo a estabelecer uma relação causal entre eles.

A célebre experiência do cão de Pavlov, a qual levou à descoberta do reflexo condicionado, é um exemplo deste tipo de argumento. Pavlov submeteu o cão a determinados estímulos, estudando as suas reacções.

Dessa forma Pavlov conseguiu explicar a relação que existia entre o estímulo produzido e o salivar do cão.

Apesar de este tipo de argumento não ser habitual em filosofia, há, ainda assim, um cuidado a ter: não concluir que um fenómeno é causado por outro porque a este se segue sempre aquele.
Este é um raciocínio muito frequente mas incorrecto. Trata-se, pois, de uma falácia. Essa falácia é conhecida como post hoc.

Um exemplo disso é:

O trovão vem sempre depois do relâmpago.
Logo, o relâmpago é a causa do trovão.

Mesmo sendo verdade que o relâmpago antecede o trovão, é falso que este seja causado por aquele. De facto, tanto o relâmpago como o trovão são causados pelo mesmo fenómeno: uma descarga eléctrica.

Resta-me falar dos argumentos de autoridade. Este tipo de argumento é principalmente utilizado quando queremos apresentar resultados que não são do domínio geral e que dependem de alguma forma de competência técnica ou de conhecimento especial. Nesses casos, nada melhor do que invocar o que os especialistas na matéria em causa afirmam.

A sua forma costuma ser:

X afirma que P.
Logo, P.

Estes argumentos nem sempre são maus. Mas são frequentemente utilizados de forma abusiva. Eis um exemplo de um bom argumento de autoridade:
Carl Sagan diz que há mais estrelas do que grãos de areia em todas as praias da Terra.

Logo, há mais estrelas do que grãos de areia em todas as praias da Terra.
Por que razão é este um bom argumento de autoridade? Porque obedece aos dois critérios seguintes:

A autoridade invocada é reconhecida como tal pelos seus pares; os especialistas não divergem entre si.

São estes mesmos critérios que tornam falaciosos os argumentos de autoridade em filosofia. Como se sabe, seja qual for o assunto, os filósofos discordam entre si. Por isso, ainda que o critério 1 fosse satisfeito, o critério 2 nunca o seria. Utilizar argumentos de autoridade em filosofia é incorrer numa falácia: a falácia do apelo à autoridade.

Contudo, quando, por exemplo, os filósofos enfrentam determinados problemas cuja discussão depende de informação científica disponível, não só podem mas devem apoiar-se naquilo que os especialistas nessa matéria dizem.

Mas sempre com o cuidado de referir claramente quando e onde é que o especialista afirmou tal coisa.
Gostaria ainda de referir uma outra falácia que de alguma forma está relacionada com a autoridade de quem argumenta.

Só que, neste caso, para a desvalorizar.

Essa falácia é conhecida como ad hominem.
Em vez de se discutir o argumento, critica-se a pessoa que o produz.

Assim se procura combater as ideias atingindo as pessoas que as defendem.
Atacar as pessoas em vez das suas ideias é uma falácia, infelizmente muito frequente.

Na verdade, mesmo as piores pessoas do mundo podem utilizar bons argumentos.

E os argumentos não são bons ou maus consoante as pessoas que os produzem.

Entendido!!!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

SILOGISMO DISJUNTIVO

O Silogismo disjuntivo é um silogismo que se apresenta sob a forma de alternativa.



1º disjunto 2º disjunto

Ou |........................| ou |...................................|



Este silogismo pode ser do tipo:

- Modus Ponens (ponendo tollens): o argumento só é legítimo se, ao afirmar-se a verdade de um disjunto, se negar o outro:

Este triângulo ou é isósceles ou escaleno

Ora este triângulo é escaleno

Logo, este triângulo não é isósceles



- Modus Tollens (tollendo ponens): ao negar-se um membro da disjunção (disjunto), afirma-se o outro membro:

O João ou é diligente ou preguiçoso

Ora, o João não é diligente

Logo, o João é preguiçoso.

TEORIA DO SILOGISMO CONDICIONAL

São silogismos em que a premissa maior mão afirma nem nega de modo absoluto, mas a título condicional.

Aplicam-se-lhe uma de entre duas regras.

Exemplo:

Condição ou hipótese: Se |estiver bom tempo |, então |irei passear|

Facto: Está bom tempo

Conclusão: Logo, vou passear.



Regra do Modus Ponens (ponendo ponens): afirmando na segunda premissa o antecedente da hipótese (aceitando o conteúdo do antecedente), afirma-se o consequente (aceita-se o conteúdo expresso no consequente da premissa condicional)
Exemplo:

Condição ou hipótese: Se tiver teste, faço serão

Facto: Ora, não fiz serão

Conclusão: Logo, não fiz teste.



Regra do Modus Tollens (Tollendo Tollens): negando-se na segunda premissa o consequente da condição, nega-se o antecedente dessa mesma condição.


Muito cuidado com as negações e duplas negações, não nos esquecendo o princípio da dupla negação (DN): uma dupla negação equivale a uma afirmação. Exemplo: negar que não é verdade que o João esteja a fumar é afirmar que o João está a fumar.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Regras, Figuras e Modos do Silogismo

1. O silogismo categórico é uma inferência dedutiva. Não se pretende descobrir nada de novo, mas apenas demonstrar a validade de algo que já se conhece.

2. Aceitando certas premissas como verdadeiras, a conclusão é necessariamente válida e verdadeira, se foram cumpridas certas regras de inferência.

Exemplo de uma conclusão inválida com premissas verdadeiras



Todas as baleias são mamíferos

Todos os gatos são mamíferos.

Logo, todos os gatos são baleias.




3. As regras de validade do silogismo são três segundo Aristóteles. Durante a Idade Média foram apontadas oito, e são estas que a tradição acabou por consagrar no seu ensino.



Regras do Silogismo Categórico Regular

Regras dos Termos

Regras

Exemplos Inválidos

1 Ter três termos (sem equívocos): maior, médio e menor.

Todo o touro tem chifres

Touro é uma constelação

Logo, uma constelação tem chifres


T. Maior:chifres;
T. Médio: Touro (animal);
T.Menor: Constelação;


2. Os termos maior e menor não podem ter, na conclusão, maior extensão do que nas premissas.

Tudo o que magoa é mau.

Alguns homens magoam.

Logo, todos os homens são maus

T. Maior: maus;
T.Menor: todos os homens;
T.Médio:magoam.

3. O termo médio tem que ser tomado pelo menos uma vez em toda a sua extensão (universalmente).

A tâmara é um fruto

A laranja é um fruto

Logo, a tâmara é uma laranja.


T. Médio: fruto.


4. O termo médio não deve entrar na conclusão Tâmara é grande

Tâmara é faladora

Portanto, a Tâmara é uma grande faladora.

T. Médio: Tâmara
Regras das Proposições

Regras
Exemplos Inválidos

5. Premissas afirmativas pedem uma conclusão afirmativa Insultar é um acto indigno

Os actos indignos são condenáveis

Logo, insultar não é condenável.

6. De duas premissas negativas nada se pode concluir Nenhum homem é imortal

Os pássaros não são homens

Portanto, os pássaros são imortais.

7. A conclusão segue a parte mais fraca Todos os leões são mamíferos

Alguns animais são leões

Portanto, todos os animais são mamíferos.

8. De duas premissas particulares nada se pode concluir. Algum aluno é preguiçoso

Algum aluno é estudioso

Portanto, alguns alunos estudiosos são preguiçosos.




4. Os modos e figuras do silogismo determinam a sua forma



Modos do Silogimos

Designa-se por modo cada uma das formas que o silogismo pode tomar derivado da quantidade e qualidade das proposições que o constituem.
Cada proposição pode ser dos tipo "A" (universal afirmativa), "E" (universal negativa), "I" (particular afirmativa) ou "O" (particular negativa).

Exemplo do modo A A I;
As baleias são vertebrados (A)

As baleias são animais aquáticos (A)

Logo, alguns animais aquáticos são vertebrados (I).

No total das combinações podemos ter 256 modos possíveis, no entanto são 19 modos são legitimos. Os restantes são sofismas do tipo:

I I A, A I O , E E E, E I A ...

Figuras do Silogismo

Designa-se por figura cada uma das formas que o silogismo pode tomar derivado da posição do termo médio como sujeito ou predicado das proposições. Existem apenas 4 figuras possíveis para o silogismo categórico.
1º. Figura

O termo médio é sujeito da primeira premissa e

predicado da segunda premissa.



Ex. Todo o homem é mortal

António é homem

Logo, António é mortal

M - P

S - M

S - P

S- Sujeito de predicado

P- Predicado da conclusão

M - Termo médio do silogismo



2ª. Figura

O termo médio é predicado nas duas premissas

Ex. Todo o homem é racional

O cão não é racional

Logo, o cão não é homem



P - M

S -M

S - P


3ª. Figura

O termo médio é sujeito nas duas premissas


Ex. Todos os carbonos são corpos simples

Todos os carbonos são condutores eléctricos

Logo, alguns condutores de electricidade são corpos simples





M - P

M -S

S - P




4ª. Figura

O termo médio é predicado na primeira premissa e sujeito na segunda


Ex. Os portugueses são homens

Os homens são mortais

Logo, alguns mortais são portugueses


P - M

M- S

S - P